Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 14, 2005
Xico Graziano:IMBRÓGLIO VERMELHO
Abril se inicia com o dia da mentira. Nada indica, porém, que as ameaças do MST sejam de brincadeira. Pelo contrário. Para piorar, ao vermelho dos sem-terra agora se junta o urucum dos indígenas. Vem aí confusão das grossas.
A tragédia de Eldorado dos Carajás, ocorrida em 17 de abril de 1996, marcou a data da estripulia agrária. Em 19 de abril, se comemora também o Dia do Índio. Resultado: a bomba ganhou novo estopim. Quem o confeccionou?
O MST, decepcionado, acusa o governo de enterrar a reforma agrária e sucatear o Incra. Afirma, irritado, que o Incra mente, pois teria assentado apenas 25 mil famílias em 2004, contra as 82 mil anunciadas oficialmente. Por sua vez, o Fórum em defesa dos indígenas assevera que a política do governo mostra descaso e afronta a cultura ancestral.
Nada como um dia após o outro. Assim deve estar pensando Fernando Henrique nesses dias de abril vermelho, enquanto Lula arrepia agora o cabelo.
No governo passado, o MST criticava a política fundiária acusando-a de vagarosa. Quanto aos índios, reinava a calma, se é que existe sossego nessa matéria.
Eleito Lula, paradoxalmente, ambas as questões se acirraram. Na reforma agrária, reduziram-se as desapropriações de terras e os assentamentos. Um anticlímax. Na política indigenista, crianças passaram a falecer por desnutrição. Um anti-fome zero tupiniquim.
Para quem se acostumou aos raciocínios polarizados, do tipo esquerda versus direita, tudo se embaralhou. O abril vermelho virou, politicamente, um imbróglio total. Por que, quando a esquerda chegou ao poder, aumentou, ao invés de diminuir, essa tensão social?
Afora a morte das crianças índias, inexplicável de qualquer ângulo, o caráter da luta agrária mostra o lado reacionário do MST. É fundamental entender esse ponto. Ao contrário do que parece, o movimento defende uma agenda do atraso. Eles, e não Lula ou FHC, são os conservadores, embora se disfarcem de revolucionários.
O distributivismo agrário poderia fazer sentido no Brasil rural, embora Caio Prado Jr já questionasse seu sentido progressista desde o final de 50. Hoje, no mundo da tecnologia, inventar camponeses a partir da pobreza pode configurar uma idéia generosa, mas ultrapassada. Um sonho, lembrando o passado.
Querer transformar a desilusão urbana em produção rural representa uma “utopia regressiva”, conforme a denominou o deputado Roberto Freire, em recente simpósio realizado no Rio de Janeiro. Significa olhar no retrovisor da História.
Supõem-se, idilicamente, que milhões de empregos poderiam ser gerados pelo campo afora, desafogando as metrópoles e garantindo a subsistência barata. Será viável?
Nada indica. Na economia, o raciocínio se afigura quixotesco. Mais se agrava quando se propõe substituir a produção empresarial — os agronegócios — pela agricultura familiar, reforçando a subsistência alimentar. Simplesmente faria aumentar a fome nas periferias urbanas. Sem criar riqueza nenhuma no campo.
Engana-se quem pensa que o MST representa a esquerda. Nasceu progressista, é verdade, quando a ditadura se estrebuchava. Ajudou a enterrá-la. Mas não aprenderam a conviver nas regras do regime democrático, que claramente desprezam. Tornaram-se autoritários.
O colorido de abril esconde uma face negra, uma espécie de fascismo social-religioso. Líderes treinados, sentindo-se como enviados divinos, manipulam a miséria para invadir territórios e punir quem julgam pecadores. Fazem justiça com as próprias mãos. Exagero?
Não, infelizmente. É essa terrível deformação da luta democrática que apavora e imobiliza o presidente. Lula parece estar, como pai, à frente do filho degenerado, sem saber como proceder. Se o afaga, pode encorajá-lo. Se o reprime, exacerba sua rebeldia.
Quem brande foices e rasga a Constituição, imaginando promover a igualdade, faz apenas estimular a violência rural. Afugenta investimentos, espanta o emprego e tolhe a liberdade. Futuro? Não, passado.
Jornal O Globo
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