O vice José Alencar acha que um bar agradável é sempre lugar inspirador para trocar idéias com amigos, contar "causos" e até resolver, em tese, os problemas do Brasil. Nosso vice-presidente está certo. Percorrendo uma rua aprazível de Blumenau, na semana passada, ele teria feito o comentário de preferir parar ali naquele "bar agradável" e simplesmente jogar uma conversa fora a cumprir agenda massacrante no exercício da Presidência da República em substituição ao viajante Lula.
Que bom seria se o governo de fato ouvisse, gravasse e se empenhasse em perseguir um plano estratégico elaborado em conversas de bar. Os atuais pensamentos oficiais têm mais conotação a uma boate ("boîte", em francês, que também significa uma caixa fechada). Num ambiente aberto e agradável, melhores pensamentos fluiriam das cabeças oficiais, haveria a transparência e a luz das ruas, a vigilância do bom senso e do bom humor, teríamos planos brasileiros mais arrojados e menos rancorosos.
Quase 30 meses (que não são trinta dias) após sua ascensão ao poder, o governo Lula ainda está preso na "boîte" de sua política financeira, um estrondoso erro que será lamentado por petistas e não-petistas por muitos anos vindouros, em agradáveis conversas de bar.
Mineiro bom de conversa, talvez seja essa a principal angústia do vice-presidente Alencar. Ele tem o pressentimento correto de que algo vai muito mal na gestão financeira do governo quando, por um alegado motivo de ameaça inflacionária, o Banco Central se obriga a seguir suposta orientação do Conselho Monetário Nacional, de lançar à Lua os juros básicos que inflam a dívida pública do próprio governo, ao mesmo tempo que se esvaziam as chances dos empreendedores privados de impulsionar seus projetos engavetados de micros, pequenos, médios e grandes investimentos. É o Brasil que produz virando servo do Brasil financeiro, uma distorção gravíssima, não só pelo freio na renda e nos empregos como principalmente pela "estética" do ócio remunerado, substituindo a ética do trabalho.
O Campo Majoritário do PT saiu com palavras macias, na sua reunião de fim de semana no Rio, a respeito dos mais de R$ 100 bilhões que anualmente são desviados, no Orçamento, para sustentar a rolagem da dívida pública. É um escárnio, que nem em programas de partidos conservadores, daqui ou do modelo norte-americano, seriam toleráveis.
De fato, o Brasil do setor público gasta demais e gasta pessimamente, haja vista a tragédia do déficit previdenciário de R$ 38 bilhões. Porém nada, absolutamente nada, é comparável ao rombo produzido pelo jogo financeiro em que se finge do mercado a exigência dos juros mais cavalares do mundo, rolando uma dívida totalmente atrelada ao custo financeiro ou ao índice inflacionário do dia e do mês anterior.
Serão cerca de R$ 150 bilhões em juros, somente neste ano de 2005, vazando do caixa da União para os rentistas das dívidas públicas federal, estadual e municipal.
Não espanta, portanto, que, ao fim da esforçada reunião do governo, num mal disfarçado ato de contrição pelo PT que já era, os príncipes da platitude tenham procurado apontar alguns méritos inegáveis da atual gestão para desviar-se discretamente da questão principal: por que o Brasil insiste em usar os juros para "combater" a inflação se a base dessa inflação residual não é a demanda privada nem o repasse de exagerados custos industriais ou agrícolas, e sim, exclusivamente, indexação geral da própria dívida pública e das tarifas ao IGP, gastos incompetentes do Estado brasileiro e nítido conluio passivo de interesses rentistas com a esquisita modelagem de anorexia econômica do atual BC?
Se estivéssemos numa agradável conversa de bar, aposto que alguns bons mineiros gostariam de pegar por aí o fio dessa conversa.
Folha de S.Paulo
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