Nos anos 70, um filme fez muito sucesso: "Tudo o que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar". Alguém, algum dia, terá que escrever todo um ensaio de no mínimo 700 páginas com o título: "Tudo o que Você Sempre Quis Saber sobre Juros, mas Tinha Medo de Perguntar".
Sexo e juros. Tem cabimento a justaposição? Talvez não. Sexo nem sempre é obsceno. Os juros, no Brasil, sim. As taxas estabelecidas pelo Banco Central e, sobretudo, as praticadas pelos bancos não podem, em hipótese nenhuma, entrar em casa de família. Se insistirem, devem ser postas para fora, a pontapés.
Retomo o tema a propósito dos rumores de que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) poderá aumentar a taxa de juro outra vez na reunião da semana que vem. Nos últimos dias, foram divulgados alguns índices de preços com variações superiores às esperadas. Foi o que bastou para que se começasse a falar em "descontrole inflacionário".
No Brasil, tudo é motivo para aumentar juros ou mantê-los em nível pornográfico. Quando não é o comportamento deste ou daquele índice de preços, é a "inflação subjacente", medida por núcleos inflacionários. Quando não são os núcleos dos índices, é o déficit público. Quando não é o déficit, é a dívida pública. Quando não é a dívida, é a "incerteza jurisdicional". Quando não é a "incerteza jurisdicional", é o cenário mundial preocupante.
De motivo em motivo (ou pretexto em pretexto), lá ficamos, em destaque constrangedor, sempre na liderança ou vice-liderança do campeonato mundial da usura.
Verdade seja dita: temos uma profusão de partidos políticos, mas só um reina supremo: o PJA -o partido dos juros altos. Em entrevista publicada nesta semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que PT e PSDB não disputam ideologia, mas poder. E acrescentou, pretensiosamente: "No fundo, nós disputamos quem comanda o atraso, a massa atrasada do país e os partidos que a representam". Muito mais apropriado seria dizer que PT e PSDB disputam quem será comandado pelo PJA.
No fim de semana passado, o campo majoritário do PT contorceu-se em mil manobras políticas e retóricas para parir um documento que trata da política econômica e outros assuntos. A julgar pelo que foi publicado na imprensa, o tema juros foi tratado com extremo cuidado. Os comentários a respeito não passaram de leves críticas ou insinuações (mais insinuações do que críticas). Já o vice-presidente da República, José Alencar, que não sofre das mesmas inibições e constrangimentos, soltou o verbo mais uma vez: "Não podemos rolar a nossa dívida com taxas de juro 10, 12 vezes maiores do que as médias internacionais".
Ele tem razão. Com os aumentos que vêm sendo aplicados pelo Copom desde setembro de 2004, a taxa de juro brasileira tornou-se um escândalo. Passou a superar por larga margem as taxas reais de curto prazo que vigoram no mundo estatisticamente conhecido. Resultado: o Brasil foi transformado num pólo de atração para o "capital motel", aqueles fluxos voláteis, de caráter eminentemente predatório -uma variante do turismo sexual. A única herança que nos deixam é a sobrevalorização do câmbio e estragos correspondentes nas contas externas.
Como justificar nova subida dos juros? As pressões registradas nos índices de preços recém-divulgados parecem ser localizadas. Boa parte, talvez a maior parte da inflação existente decorre de movimentos de preços que sofrem pouca ou nenhuma influência da política de juros (por exemplo: preços administrados por contratos, sujeitos a uma indexação inadequada pelo IGP, preços internacionais do petróleo e outras commodities). Segundo documentos recentes do próprio Banco Central, os núcleos do IPCA cederam neste início de 2005 e as projeções e expectativas de inflação para os próximos 12 meses e 2006 são compatíveis com as ambiciosas metas de inflação fixadas pelo Conselho Monetário Nacional.
Enquanto isso, a economia vem dando sinais de perda de dinamismo. Não por acaso, projeções do FMI, divulgadas ontem, situam o crescimento econômico do Brasil em 2005 abaixo da média mundial, abaixo da média dos demais "emergentes" e até abaixo da média latino-americana.
Não importa. Em matéria de juros, ninguém pode conosco.
Folha de S. Paulo
Entrevista:O Estado inteligente
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