Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 14, 2005
Antonio Fernandes:Ônus sem bônus
Alckmin e Serra vão ter muitas dificuldades. Sobretudo com o Legislativo. Mas também com a militância petista infiltrada em todos os lugares. Faz parte do plano do PT para inviabilizar suas pretensões políticas. Por mais promessas mútuas de não-agressão, acordos explícitos ou tácitos que fizerem com o governo federal, vão apanhar do PT, sem dó nem piedade, até o último dia de seus mandatos.
Serra parece acreditar mais do que Alckmin na palavra dos interlocutores petistas. Talvez porque Serra pense que é de esquerda e que ainda haja algum tipo de acordo a fazer dentro do campo dos que não querem a ascensão ou a volta da direita. Talvez.
Serra, dizem, queria porque queria manter um suposto acordo com o PT para eleger Greenhalgh. Um cara, obviamente, muito mais perigoso para a democracia do que o folclórico Severino. Severino é um antolho. Um diversivo. Chama sobre si a atenção, desviando o olhar da verdadeira ameaça. Atrai a indignação popular, poupando os que deveriam ser objeto da justa raiva do cidadão comum. Nessa medida, acaba servindo ao PT.
Severino não propôs intervenção nas agências reguladoras. Não tentou criar conselhos de jornalismo e de audiovisual para controlar a imprensa, as TVs e o cinema. Não advogou a concentração e a centralização fiscais. Não promoveu a asfixia financeira dos Estados e municípios, produzindo uma dependência direta de Brasília. Não apresentou nenhum projeto para controlar as universidades. Não construiu no espaço público nenhuma rede privada de agentes aparelhadores (seu nepotismo não concorre nem de longe com o "nepetismo"). Não interferiu na independência do Ministério Público. Não está tentando politizar o STF. Não desfigurou os partidos desmontando a proporcionalidade saída das urnas de 2002. Não quis colocar uma mordaça no IBGE. E não concorda com o uso abusivo das medidas provisórias (que funcionam mais ou menos como os decretos-lei da ditadura). Pelo contrário, Greenhalgh, entretanto – como "homem de esquerda" –, apoiaria tudo isso.
Alckmin não carrega esse passivo de ilusão. Nunca foi mesmo de esquerda. E não tem motivos para acreditar nessa balela de "vamos nos unir para evitar o mal pior". Não há mal pior do que enfrear o processo de democratização de uma sociedade, venha de onde vier, não importa se da direita ou da esquerda. Não sabemos se ele sabe disso. Não sabemos nem se ele pensa nessas coisas. Mas não viver iludido já é uma vantagem.
Por melhor governo que Serra faça, nunca parecerá bom. E Serra, competente como poucos, fará um bom governo, talvez dos melhores que a cidade já teve. Mas São Paulo é complexa demais para uma estrutura tão precária como a da prefeitura municipal. Já Alckmin teria mais chances de uma performance notável: diluídos por todo o estado, os problemas parecem menores. Inclusive porque estão mais distantes do dia-a-dia do cidadão. No entanto, a vida política de ambos será bombardeada daqui para frente com tal intensidade, que será quase impossível manter incólume sua imagem de bons administradores.
Governar-bem é a principal missão dos que foram eleitos para tanto. Nos próximos meses, entretanto, não se trata disso. O PT esculhambou de tal modo a vida política, que agora tanto faz se um mandatário cumpre ou não cumpre bem o seu mandato. O PT não está nem aí para isso. A ele o que interessa é, apenas, reter o poder. Porque, na dinâmica que vem caracterizando a vida política brasileira na última quadra, o PT sabe que não há nenhuma maneira de distinguir o bom-governo daquele que é propagandeado como um bom-governo e assim reconhecido pelas maiorias votantes. (Se não fosse assim Lula já poderia desistir da reeleição). E sabe que o inverso também é verdadeiro. Não há nenhuma maneira de distinguir o péssimo-governo daquele que é propagandeado como um péssimo-governo, se a propaganda colar. Por certo, nenhuma propaganda cola inteiramente. Mas então a disputa já não se trava sobre a matéria substantiva – as realizações – e sim sobre o que se diz delas. A diferença é que o PT tem menos pudor do que qualquer outro ator político para dizer que gato é lebre e vice-versa. Para ele, aliás, essa é a regra número um da política. Faz isso com a maior tranqüilidade, sem ficar vermelho (taí uma boa razão para o vermelho).
Tudo isso é para dizer que quanto mais coisas boas Serra e Alckmin fizerem, mais serão atacados pelo PT. Já está decretado. Não tem volta.
Tem, é claro, uma armadilha. Se o PSDB concordar em disputar para valer somente em 2010, Lula lhe concederá a tão sonhada trégua que permitirá a realização de bons-governos de oposição, em Minas Gerais com Aécio reeleito e, sobretudo, na cidade de São Paulo, com Serra.
Evidentemente, nada garante que uma suposta trégua como essa seria realmente mantida depois de 1 de janeiro de 2007. O mais provável é que, se Lula for reeleito, ela dure aí uns seis meses, se tanto. Depois virá novamente a campanha de destruição, não porque a direção do PT queira fazer isso, mas porque é da própria natureza de uma agremiação hegemonista se comportar assim.
Sabendo disso, o PSDB tem que lançar seu candidato à presidência da República em 2006. O contrário será querer que o povo cumpra o papel de "marido enganado". Incrível essa lógica: todo o mundo (político) já sabe, mas o povo deve ser o último a saber!
Deixar para apanhar depois não é uma opção para quem já está apanhando agora. É o ônus sem bônus.
e-agora -
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