Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 21, 2005

LUÍS NASSIF:Gestão na área social




Recentemente o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, anunciou que este seria o ano da gestão no governo. Gestão não é questão de querer. Também não é apenas questão de Poder, embora o comando seja fundamental. É questão de modelo, do uso adequado de ferramentas que permitam definir os indicadores, os objetivos, as etapas a serem cumpridas e o acompanhamento das ações.
É comum ouvir no governo, ou dos políticos, que "Dirceu resolve". Ter comando é importante. Mais importante é saber o que comandar. Em geral, em estruturas gerenciais eficientes, não há a necessidade do mando. O controle é exercido por meio da definição clara das atribuições de cada um e de modelos tipo "gestão à vista", no qual todos acompanham o que cada um está fazendo. A própria exposição do desempenho é o maior fator de estímulo e cobrança para todos.
No setor público, essa definição é mais complexa. As estruturas de comando são mais estratificadas, há obstáculos burocráticos até na definição das atribuições de cada setor, o que aumenta a importância de sistemas de informação e gestão bem estruturados.
Esse foi o teor de conversa recente que tive com o ministro da Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Ontem, com suas habituais gentileza e humildade, Patrus ligou para dar conta de que acatou sugestões. Aproximou-se do MBC (Movimento Brasil Competitivo) -uma Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) do governo e setor privado- e começou um trabalho, ainda em fase de diagnóstico, de criação de um modelo de gestão para a área social.
Se incluir as modernas tecnologias sociais -campo em que o Brasil tem o estado da arte-, o modelo fecha. Essas tecnologias -desenvolvidas pelo Comunidade Solidária, Instituto Ayrton Senna, entre outros- se aplicam em políticas distribuídas, que exigem muitos grupos atuando na ponta, com uma coordenação central. Primeiro, parte-se para um diagnóstico claro de que problema que se pretende atacar. Depois, define-se um projeto-piloto, para testar as melhores práticas e os melhores indicadores. Finalmente, com o piloto suficientemente testado, busca-se a rede de parceiros para multiplicar a experiência. Se o modelo for redondo, nele podem caber desde ONGs até grandes empresas com tradição de trabalho voluntário.
Se articular essas três pontas -modelo de gestão, modelo de tecnologia social e modelos de articulação com voluntariado de grandes corporações-, é possível que se avance consideravelmente na qualidade dos gastos sociais no país.

A volta do pêndulo
O discurso do papa Bento 16 contra os excessos da globalização, o referendo na França sobre a Constituição européia, a estagnação das economias que aplicaram práticas ultraliberais, o fechamento econômico dos países latino-americanos mostram que o pêndulo da liberalização cambial e financeira começa a se inverter. Quando os exageros do modelo estiverem mitigados em todas as economias, é possível que os doutos cabeças de planilha tupiniquins comecem a embarcar na nova velha onda.
FOLHA DE S PAULO

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