Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 12, 2005

Luís Nassif: A economia da música

A definição de uma política para a música pressupõe o correto conhecimento de algo que não está muito claro: para onde caminhará a indústria de entretenimento com os avanços tecnológicos. Mesmo assim, há alguns princípios fundamentais já consolidados, que irão marcar o setor daqui para a frente.
O primeiro é a universalização do acesso e da distribuição. A rede é estruturada em uma constelação de sites organizados em torno de serviços de busca. Hoje em dia, há estúdios caseiros com capacidade de gerar gravações com a qualidade dos grandes estúdios. Gradativamente, os avanços da tecnologia definirão modelos de certificação de arquivos. Com isso, seriam praticamente eliminadas as barreiras de entrada na internet.
No campo da distribuição, as lojas virtuais avançam de forma acelerada. Depois da era IPod, já se fala na era do celular para baixar arquivos. É apenas o início. Não deve demorar para que surjam os aparelhos de áudio e vídeo de rádio sobre internet, rádios que, em vez de ondas AM e FM, captem, via wi-fi, os sons que trafegam pela internet. Haverá uma oferta infinita e não-regulada de novas emissoras.
Como competir nesse quadro de oferta infinita? Certamente, nesse universo, proliferará o modismo de curta duração. Mas também haverá a possibilidade de dar sobrevida às modas por meio da exploração inteligente da proliferação de grupos de discussão e de comunidades na internet. Principalmente para as tribos jovens, a música é a forma mais completa de identificação.
A internet trouxe novo tipo de internacionalização, que é a constituição de tribos em torno de hábitos ou valores internacionais. Hoje em dia, o Brasil conseguiu entrar na onda em vários desses valores -alguns, modismos passageiros; outros, valores irreversíveis. A preocupação com a natureza e a Amazônia, a imagem de país de gente descolada, a sensualidade, as festas populares são valores, todos eles com expressão lúdica. E, descontado todo o carnaval ufanista da preponderância de brasileiros no Orkut, a experiência demonstrou a facilidade do jovem brasileiro de se relacionar com as tribos mundiais.
Mas há a necessidade de inserir decisivamente a música como elemento central da consolidação da marca Brasil. E de trabalhar profissionalmente essas novas formas de divulgação, como os fóruns.
Por outro lado, se ambicionar buscar mercados mais amplos, de alguma maneira a música brasileira terá que conjugar os ingredientes nacionais com uma linguagem universal. O fato de ser uma atividade virtual por excelência facilita. Em um dia qualquer do futuro, um tema relevante -como a morte do papa- permitirá composições criativas exprimindo o sentimento universal, customização para a língua e o intérprete de cada país.
Mas o desafio maior será definir modelos de negócio adequados. O Brasil não tem experiência de criatividade nessa área -nem na música nem em outros setores.


Folha de S.Paulo -

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