Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 08, 2005

Jornal Cruzeiro do Sul Celso Ming:Antiderrapante cambial


Sem o Banco Central como babá, o dólar tende a mergulhar no câmbio interno. Fechou a R$ 2,7660 dia 15 de março e ontem, a R$ 2,5960 - recuo de 6,1% em 17 dias úteis.
Os exportadores pedem providências que revertam essa tendência. Ontem, 22 entidades engajadas na exportação assinaram manifesto em que reivindicam não só modernização da legislação cambial, mas, também, retorno das compras de moeda estrangeira pelo Banco Central e novas regras no crédito do comércio exterior.
Uma dessas regras é a proibição de que o importador obtenha crédito externo por mais de 30 dias na entrada de bens de consumo. Com isso os exportadores querem evitar que o importador levante lá fora financiamentos de prazo mais longo, venda o produto importado no mercado interno, engorde o resultado das vendas no mercado financeiro interno, onde os juros são exuberantes, e adie a compra de dólares para pagar o fornecedor externo.
A idéia dos exportadores é aumentar a procura de moeda estrangeira e conter a oferta para que o dólar não mergulhe tanto quanto vem mergulhando, com objetivo de estimular exportações e evitar que fechem fábricas de produtos destinados ao mercado externo.
Que a legislação cambial precisa de mudança está mais que sabido, porque as atuais regras foram feitas para impedir a fuga de capitais e atrair mais dólares. Nessas condições, têm o objetivo de construir certa blindagem contra a vulnerabilidade cambial (falta de dólares) e, assim, impedir a excessiva desvalorização da moeda nacional, exatamente o contrário do que os exportadores pretendem agora. Como o perigo é oposto (de mais entrada do que saída de dólares), fazem falta regras mais ajustadas.
Mas os exportadores não estão vendo a tela inteira. Uma das razões pelas quais o Banco Central parou de comprar dólares é a prioridade ao combate à inflação. Dólar mais caro encarece as importações e dificulta o combate à inflação; e inflação mais alta exige juros mais altos. Interessa ao exportador derrubar a inflação para que os juros altos deixem de atrair dólares. Isso se faz também com a ajuda do dólar barato. Dólar sempre mais caro, como eles querem, produz efeito contrário: estimula a inflação e joga os juros para cima.
Por mais paradoxal que pareça, os exportadores são os principais responsáveis pelo tombo do dólar. Eles estão aumentando a oferta de dólares na praça. Só no primeiro trimestre, as exportações alcançaram US$ 25,5 bilhões. O saldo comercial do período foi de R$ 8,3 bilhões, um pouco menos do que o volume de dólares que o Banco Central se viu obrigado a comprar.
Se os exportadores querem um dólar mais caro "para estimular exportações", estão trabalhando para que o efeito dessa operação seja mais entrada de dólares. Isso não quer dizer que as exportações sejam indesejáveis. Diz apenas que o sucesso exportador implica aumento da oferta de dólares que, se não for acompanhado de aumento equivalente da procura, tende a provocar a valorização do real diante do dólar e não o contrário. Isso pede maior abertura e não o jogo comercial retrancado que grande parte dos subscritores do manifesto continuam defendendo.
Mais quatro observações:
(1) Quanto mais melhorarem os fundamentos da economia brasileira e mais recuar o risco Brasil, objetivos perseguidos pela política econômica, maior deve ser o recuo do dólar no câmbio interno.
(2) Por limitações fiscais (disponibilidade de recursos), o Banco Central não pode continuar comprando dólares indefinidamente.
(3) É difícil conter financiamentos externos apenas para importações de bens de consumo sem atingir o segmento de componentes, peças e conjuntos destinados à montagem no mercado interno.
(4) O dólar segue abaixo dos R$ 2,80 desde novembro e, no entanto, nada indica enfraquecimento das exportações, especialmente de manufaturados, que vêm crescendo quase 40% neste ano. Diante desses números, fica difícil aceitar o argumento de que as fábricas estão fechando por incapacidade exportadora. O que há é que os asiáticos estão tirando mercado do Brasil lá fora e isso não se explica apenas pelo real forte.

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