Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 14, 2005

A GUERRA DE SHARON

Em visita aos EUA, o premiê de Israel, Ariel Sharon, afirmou que seu país está "à beira da guerra civil". Há, por certo, algum exagero na declaração do dirigente, mas seria um erro menosprezar a capacidade de sabotar o processo de paz da extrema direita israelense e de seus aliados ultra-religiosos, que se opõem ao plano de retirada da faixa de Gaza.
Sharon escolheu a dedo o lugar e a hora de soltar sua frase de efeito: instantes antes do encontro com o presidente George W. Bush no qual o mandatário americano lhe cobraria suspender a ampliação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.
O caráter político da afirmação não elimina o fato de que o premiê enfrenta grandes resistências por parte dos grupos radicais para pôr em prática seu plano de abandonar Gaza. Se a retirada de 8.000 judeus que vivem em meio a 1,5 milhão de palestinos já causa tanta controvérsia, com colonos prometendo resistir e assassinar Sharon, a situação é mais complexa e delicada na Cisjordânia, onde as colônias são verdadeiras cidades judaicas encravadas em território palestino. Para piorar o quadro, até há pouco Sharon era um grande incentivador dos assentamentos.
O impasse é por certo difícil, especialmente porque os colonos são uma minoria barulhenta. A grande maioria dos israelenses, contudo, é francamente favorável à retirada de Gaza. A vitória de Sharon, que conseguiu fazer prevalecer a tese da evacuação mesmo contra seu próprio partido, o Likud (centro-direita), não deve servir para que se deixe de apreciar a questão em sua real perspectiva. Se os israelenses abandonarem Gaza, mas não resolverem o problema muito mais complexo da Cisjordânia, a paz com os palestinos estará tão distante quanto hoje.
Assim, por mais doloroso que seja para Sharon, é fundamental que Israel congele a ampliação dos assentamentos na Cisjordânia e comece a considerar a hipótese de desmantelá-los. A negociação com os palestinos sempre se baseou no princípio de trocar território por paz. Israel não pode mudar isso agora.

Folha de S.Paulo - Editoriais

Nenhum comentário:

Arquivo do blog