Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 05, 2005

Folha de S.Paulo - Roma - Clóvis Rossi: O sagrado e o popular - 05/04/2005

ROMA - Emanuele Severino, colunista do jornal "Corriere della Sera", teve ontem a coragem de registrar, aliás na capa desse matutino italiano, que "nos últimos dois séculos, o mundo ocidental se afastou cada vez mais do sagrado".
Digo coragem porque a avassaladora onda de louvação ao papa João Paulo 2º e a sua virtual canonização pelos fiéis que parecem nunca sair da praça São Pedro podem dar a impressão de que houve, em seus 26 anos e pouco de pontificado, um exponencial avanço do "sagrado" (ou, ao menos, do catolicismo e/ou do cristianismo).
Se há essa suposição, ela é desmentida fortemente por todas as pesquisas que se fazem nas nações mais católicas do planeta (Espanha e Brasil, por exemplo), demonstrando queda no número de fiéis e forte redução no número de padres.
Feitas essas constatações, vale perguntar: se o "sagrado" está em retrocesso, como explicar a imensa popularidade de João Paulo 2º? Uma resposta pode estar em trecho do artigo que o excelente analista Timothy Garton Ash escreveu ontem: "João Paulo 2º foi, simplesmente, o maior ator político do último quarto de século".
Como Garton Ash usa ator no duplo sentido, o convencional e o de expoente político, é natural supor que a popularidade do papa venha, ao menos em parte, dessa característica.
Complementar a essa hipótese de explicação está a idéia disseminada de que Karol Wojtyla derrubou o Muro de Berlim.
A derrubada foi sem dúvida popular, mas Garton Ash põe seu grão de dúvida: "Ninguém poderá jamais provar, de maneira irrefutável, que o papa desempenhou um papel decisivo na queda do comunismo".
Seja como for, resta o corolário da afirmação de Emanuele Severino: se o sagrado retrocedeu, mesmo como um propagandista como Wojtyla, como será com o próximo papa?

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