Suponha que você fosse cidadão de um país com imenso potencial: vasto em extensão e dotado de recursos biológicos sem par. Suponha que esse país fosse um dos mais desiguais da história. Suponha que, apesar das injustiças que maculassem quase tudo nessa nação, ela fervilhasse de energia. E que nela houvesse despontado, no meio popular, nova cultura de auto-ajuda e de iniciativa, transformando silenciosamente as consciências de milhões de pessoas.
Suponha que o contraste entre o vigor frustrado do país e a mediocridade humilhante de sua vida pública houvesse minado a confiança de seus compatriotas em sua capacidade de desbravar caminhos não antes referendados pela experiência de outras nações mais bem-sucedidas. Suponha que, a despeito dessa insegurança moral enervante, a população oscilasse entre a resignação e o inconformismo, entre a descrença no poder transformador da política e a vontade de encontrar saída de qualquer jeito. Suponha que, nessa busca de saída, os eleitores tivessem repetidamente demonstrado pouco preconceito e muita audácia.
Suponha que, entre os partidos políticos que resistissem, um houvesse ganho predominância sobre os outros, atraindo muitos dos melhores quadros do país e prometendo justiça para quem trabalha e produz, justiça para o jovem, a mulher, o negro. Suponha, entretanto, que, depois de campanha emocionante, o presidente eleito por esse partido se houvesse dado por impedido, pelo acúmulo de constrangimentos práticos, de promover qualquer uma das mudanças que prometera. Suponha que, em vez de lutar por essas mudanças, ele tivesse assumido como sua a agenda de reformas -antagônicas aos interesses do trabalho e da produção- das forças que ele antes dizia combater. Suponha que essa rendição tivesse ocorrido no momento em que a agenda a que ele se rendera perdia credibilidade em todo o mundo. Suponha que lideranças intelectuais e religiosas vivessem, porém, a dar entrevistas, inventando desculpas para esse agachamento em vez de denunciá-lo como produto da mistura da confusão com a covardia.
Suponha que, não conseguindo esconder seu deleite com a bajulação que lhe dirigiam, aliviados, os interesses do dinheiro vadio e não percebendo o desdém mal disfarçado que a acompanhava, o presidente, rendido, procurasse dourar a pílula com falas chistosas e chorosas e com gestos de caridade vazios. Suponha que o esforço para açucarar amargura coexistisse com o achacamento sistemático dos maiores empresários do país, dentro do próprio palácio presidencial. E com a disposição do governo para comprar políticos, para desmoralizar partidos e para deixar submissa uma mídia quase falida.
Suponha que nessa nação você houvesse nascido na elite. E que os acidentes da vida o tivessem armado com a espada do conhecimento e com o escudo da relativa invulnerabilidade. Suponha que você tivesse identificado os primeiros passos de um caminho que permitisse ao país avançar na direção que ele almejava. Suponha, entretanto, que você dissesse: não é comigo; prefiro não me expor a incômodos e a vexames para lutar, à luz do dia e no mais amplo espaço que conquistasse, contra esse estado de coisas. Sua conduta seria ignominiosa. Contra você deveriam levantar-se, nas mãos de seus concidadãos, as pedras das ruas.
Entrevista:O Estado inteligente
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