Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 06, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: ABRIL SEM ORDEM - 06/04/2005

Novas invasões ocorridas no último fim de semana marcaram o início de mais um famigerado "Abril Vermelho", nome adotado para o mês em que se intensificam as mobilizações e protestos capitaneados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). As ações fazem parte do que o movimento chama de "Jornada de Luta", na verdade uma genuína jornada de abusos, realizada anualmente pelo MST, a pretexto de lembrar o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em abril de 1996.
Até agora, ao todo, o MST, juntamente com a Organização da Luta no Campo (OLC), invadiu 12 fazendas no interior de Pernambuco. As ações não devem parar por aí. Segundo a direção do movimento, até o final desta semana deverão ser realizadas mais 40 invasões só naquele Estado.
O MST tem, certamente, o direito de defender a população rural despossuída e de lutar contra as evidentes assimetrias da estrutura fundiária brasileira. Isso, porém, não pode se confundir com a sistemática agressão à ordem. Paralelamente à irresponsabilidade das lideranças do movimento, é preciso reconhecer que a extraordinária inoperância da administração petista na condução da reforma agrária tem contribuído para estimular esse tipo de mobilizações e para açular os conflitos.
Até agora nenhuma das metas da reforma agrária foi cumprida pelo governo petista. Em 2004, atingiu-se apenas 59% do objetivo estipulado. Diante desse quadro, é preciso muito otimismo para acreditar no assentamento de 400 mil famílias até 2006, conforme o prometido.
Além disso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado sempre leniente quando se trata de mobilizações claramente ilegais -não cumprindo, por exemplo, a norma, criada pelo governo anterior, que afasta da reforma agrária as terras invadidas.
Já passa da hora de repensar o modelo de reorganização fundiária que se pretende implantar no país, de modo a conferir-lhe mais eficiência e adequá-lo à realidade econômica contemporânea. Até agora o PT fez muito pouco para quem anunciava, à época das eleições, uma "reforma agrária do século 21".

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