Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 08, 2005

Folha de S.Paulo-CLÓVIS ROSSI:Uma aula de respeito

ROMA - A Itália tem uma imagem de país meio esculhambado, ao menos para a minha geração. Posso dizê-lo sem temor de ser chamado de preconceituoso, porque meu avô materno era italiano, assim como os pais do outro avô e das duas avós.
Mas, se o padrão de julgamento é apenas o que aconteceu durante as cerimônias fúnebres de João Paulo 2º, a imagem é injusta. Digerir 5 milhões de pessoas nas ruas, dia e noite, noite e dia, sem qualquer incidente digno de registro, é façanha que encheria de orgulho qualquer país.
Meu companheiro de cobertura em Roma, Igor Gielow, acha que parte da façanha se deve ao "jeitinho" que os brasileiros compartilhamos com os italianos (entre outros). De fato, os "carabinieri", os policiais italianos, foram flexíveis o suficiente para acomodar todas as situações delicadas, como reabrir as filas para a visitação ao papa morto, para atender gente que chegou atrasada e chorava desconsolada, desesperada.
Conheço países em que os policiais baixariam o porrete com gosto nos insistentes. Aqui, havia até intérprete, com um distintivo indicando essa condição, entre as forças de segurança para ajudar os forasteiros que não falam italiano.
Mas acredito que tenha havido mais que "jeitinho" para o bom andamento das coisas. No detalhe: já no domingo, quando não havia ainda sido exposto o corpo do papa, a Proteção Civil distribuía garrafinhas de água mineral para quem se dirigia à missa, mesmo não sendo um dia especialmente quente.
No Brasil, a Proteção Civil costuma chegar DEPOIS do problema, em vez de antecipar-se a ele, por mais boa vontade que se seus integrantes tenham -e têm.
Está sendo, enfim, uma aula de respeito ao distinto público. Posso até queimar a língua, porque hoje estão na praça as autoridades. Mas, quanto ao mortal comum, o esquema italiano foi exemplar.

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