Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 06, 2005

Folha de S.Paulo - CLÓVIS ROSSIi: O comunismo e a ciência - 06/04/2005



ROMA - De certa forma, a guerra que o próximo papa terá pela frente é muito mais complicada do que aquela que João Paulo 2º enfrentou -e venceu. Mesmo que não se aceite a tese de que o papa foi essencial para a queda do comunismo, resta o fato de que, no mínimo, ele estava do lado vencedor.
Escolher um lado durante a Guerra Fria podia representar riscos se quem o fazia vivia em um país comunista, mas, do ponto de vista doutrinário, era mais fácil.
A perseguição à igreja, por si só, indicava a absoluta impossibilidade de escolher o lado comunista, por mais que os teólogos da libertação tenham utilizado o instrumental marxista para analisar a realidade.
Agora não é assim. Os cientistas que fazem pesquisas com células-tronco ou os jovens que vão à missa todos os domingos, mas, não obstante, usam camisinha para manter relações sexuais fora do casamento, não perseguem padres nem proíbem os amigos de freqüentar a igreja.
De mais a mais, fenômenos como a Aids e as pesquisas com células-tronco são recentíssimos. Não havia nem sombra deles nos tempos de Jesus e, portanto, toda e qualquer interpretação sobre o que a Bíblia possa dizer a respeito de um e de outro não passa disso, de interpretação, com toda a dose de subjetividade decorrente.
Vinicius Torres Freire escreveu neste mesmo espaço, na segunda-feira, que esse tipo de tema pode estar na agenda do mundo, mas não está na da igreja, pelo menos no que diz respeito ao conclave que elegerá o papa. Não será decidido, a julgar pelas (poucas) informações disponíveis, por essa questão. A igreja e o mundo têm tempos diferentes.
Mas não vai ser possível adiar por muito tempo o debate sobre essas questões, por difícil que seja. Combater o comunismo era uma coisa -ninguém, ou muito pouca gente, abandonava a igreja por isso. Outra coisa é combater a ciência. Aí os riscos de isolamento são enormes.

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