Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 07, 2005

Folha de S.Paulo - Cl-ovis Rossi: Perfume de santidade - 07/04/2005

ROMA- Diz a tradição católica que todo santo exala perfume de violeta. Mesmo o mais apurado dos olfatos não conseguiria sentir tal odor em torno do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eusébio Scheid, ao menos enquanto ele fala ou escreve sobre o teor de catolicismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nada contra o arcebispo (ou quem quer que seja) chamar de "caótico", em contraponto a católico, o presidente da República e seu governo. É seu direito.
Mas tudo contra o tom raivoso com que dom Eusébio tratou de definir o catolicismo de Lula ("não é suficientemente católico"). É uma extrapolação, ainda mais partindo de questões em aberto na sociedade e, a julgar pelas declarações de dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, também na própria Igreja.
A crítica do prelado do Rio visa temas éticos e morais, como o direito ao aborto e o casamento de homossexuais. Eu posso entender perfeitamente argumentos dos que não aceitam de jeito nenhum o aborto ou o casamento gay ou ambos.
Mas é fundamentalismo fechar a discussão de temas tão polêmicos, além de impróprio da caridade cristã negar o estatuto de católico a quem se declara como tal, mas, não obstante, tem visões diferentes sobre esses temas, como Lula.
Tanto que dom Cláudio atesta que "Lula é católico mesmo".
Tanto que o próprio dom Eusébio viu-se obrigado a emitir nota ontem como "esclarecimento" sobre as declarações da véspera, esclarecimento que não esclarece nada, mas deixa claro que "teria sido melhor não ter feito" (os comentários amargos do dia anterior).
Pior: dom Eusébio insurgiu-se com o fato de Lula ter ficado feliz com a possibilidade de dom Cláudio ser eleito papa, como se o presidente estivesse de fato violando o direito exclusivo de o Espírito Santo influenciar a eleição do novo papa. Triste.

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