Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 03, 2005

Folha de S.Paulo ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: Brasil, futuro celeiro do mundo! - 03/04/2005



"Será que o Brasil vai nos dar dor de cabeça?" Essa indagação foi apresentada aos fazendeiros dos Estados Unidos associados ao "Farm Bureau Federation" no fim do ano passado. Isso porque, em meados de 2004, os Estados Unidos mais importaram do que exportaram alimentos.
A preocupação é um forte indício da nossa imensa potencialidade. O ex-secretário de Estado Colin L. Powell descreveu o Brasil como uma nova superpotência agrícola. O ministro Roberto Rodrigues, que observa atentamente a revolução silenciosa que se passa no campo, está seguro de que, em matéria de produção e de produtividade, o Brasil já é imbatível. O professor Edward Schuh, da Universidade de Minnesota, grande conhecedor da agricultura brasileira, diz que as pesquisas agropecuárias realizadas pela Embrapa e por outras instituições colocaram o país no mais alto patamar, sendo as principais responsáveis pelo espetacular crescimento da agricultura e da pecuária brasileiras.
Apesar dos percalços ocasionais, como a seca que se abateu sobre o Sul do país neste ano, o Brasil está condenado a ser um dos maiores celeiros do mundo. O que está difícil de superar é a lamentável condição da nossa infra-estrutura, em especial a das rodovias e a das ferrovias brasileiras. O transporte ferroviário é de grande importância para a exportação de grãos.
O IBGE procurou estimar os desperdícios que ocorrem antes e depois da colheita. O resultado foi desolador. Só em grãos, o Brasil perde cerca de 13% do que é produzido. A maior parte desse desperdício decorre do derramamento durante o transporte. Apenas aí "evaporam-se" cerca de 10 milhões de toneladas, o que custa ao país R$ 2,7 bilhões!
É incrível que um país que tem tantos recursos naturais e que dispõe de centros de pesquisa de invejável qualidade -além de produtores aguerridos, que não têm medo do trabalho- amargue um prejuízo de tamanha magnitude.
O problema vem de longe. Os indicadores agropecuários registrados pelo IBGE no período de 1996 a 2003 mostram que o Brasil perdeu 81,7 milhões de toneladas de grãos, o que dá uma média de 13,6 milhões de toneladas por ano. Isso significa que, se nada mudar, a cada dez anos o Brasil perde uma safra inteira! É um absurdo!
O desperdício até aqui analisado fica muito maior quando se incluem as perdas que ocorrem durante a colheita e na prática do varejo. E sobe ainda mais quando se adiciona a imensa quantidade de comida que faz parte do lixo da sociedade de alta renda como um todo em nosso país.
Isso não pode continuar, mesmo porque, além de divisas, o agronegócio gera muitos empregos. Sua função social é das mais importantes.
Estamos precisando de uma verdadeira cruzada para criar novos valores. Ao lado da melhoria imediata das condições de armazenagem e de transporte e da implantação de novas ferrovias, torna-se necessário e urgente inaugurar um processo de formação de hábitos adequados em relação aos alimentos e focalizar, com especial atenção, as crianças, no lar e na escola.
Nossa esperança está depositada nas novas gerações, para que a nação possa merecer o respeito do chamado Primeiro Mundo

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