Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 19, 2005

ELIANE CANTANHÊDE: Notório saber




BRASÍLIA - Reação da minha mãe ao ler a manchete da Folha no domingo, sobre a criação do cargo de senador vitalício para os ex-presidentes da República: "O quê?! Isso é mais uma mordomia, mais um absurdo, estão rindo da nossa cara".
Até aí, nenhuma surpresa, porque ela é ranheta mesmo. Surpresa, no duro, foi ler o "Painel do Leitor" de ontem. Todas as quatro primeiras cartas foram contra a idéia, com argumentos desde "maracutaia" até "imoralidade" e "golpe".
Calma, gente! Coração quente, cabeça fria. A proposta pode até ter lá suas segundas intenções, como dar um "sossega-candidato" em FHC, livrar Sarney da chatice de se candidatar de novo no Amapá e tirar Itamar de Roma para nomear um embaixador petista. Além, evidentemente, de garantir o futuro de Lula.
Mas, falando sério, o projeto faz todo o sentido. Ex-presidentes têm experiência acumulada, vasto conhecimento da realidade, direito a se manifestar sobre os mais variados temas. É justo e salutar que tenham uma tribuna para isso.
Seriam mais ou menos como o profissional muito qualificado, mas sem mestrado ou doutorado, que é convidado para dar aulas numa universidade ou para uma tarefa específica no governo, com dispensa de licitação. Em resumo: por "notório saber".
Não são três ou quatro senadores a mais, sem direito a voto, que vão sobrecarregar os cofres públicos. Nem um gabinete com uns assessores e uns tantos gatos pingados que vai inflar assim tão significativamente a conta bancária de ex-presidentes.
Na relação custo-benefício, o país lucra mais com ex-presidentes como senadores vitalícios do que em embaixadas bonitas, fazendo palestras por aí ou cabalando votos em ex-territórios. Pensando bem, ganha o país, ganham eles, ganhamos todos.
Folha de S.Paulo

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