Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 11, 2009

Fatos novos Merval Pereira

O GLOBO

Alguns sinais nos últimos dias indicam que a base governista não se convence de que a candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência tenha condições de vingar, e não se trata de simples impressão. Pesquisas de opinião já indicam que o relativo sumiço dos últimos dias, devido à segunda fase do tratamento contra o câncer linfático, tem feito os índices de apoio de sua candidatura cair em alguns estados, ou estacionar em outros. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, confirma que pesquisas regionais — como no Paraná e no Mato Grosso do Sul, por exemplo — têm indicado essa tendência, embora não haja nenhuma pesquisa nacional prevista para os próximos dias.

A repercussão da possível candidatura da senadora Marina Silva à Presidência pelo Partido Verde é um desses sintomas. Nada indica que ela tenha chances de vencer, mas todos acreditam que sua mera presença na disputa quebra a polarização entre PT e PSDB e pode levar a disputa para o segundo turno.

A candidatura da ex-ministra Marina Silva assumiria um espaço que foi ocupado por dois outros candidatos na eleição de 2006: a então senadora Heloísa Helena era uma dissidente do PT que fez uma campanha agressiva contra o governo Lula e acabou tendo quase 7% dos votos. E Cristovam Buarque, outro dissidente do PT, concorreu pelo PDT como o candidato da educação e teve pouco mais de 2% dos votos.

A senadora Marina Silva nada tem a ver com o estilo belicoso de Heloísa Helena, mas quebraria o monopólio da representação feminina, que é um dos sustentáculos da candidatura da ministra Dilma Rousseff.

E seria uma candidata temática, para defender uma política ambiental para o país que julga menosprezada pelo governo Lula, decepção que ficará patente se confirmada sua decisão de deixar o PT.

A hoje provável candidatura de Marina Silva pode tirar votos dos dois partidos que polarizam a disputa presidencial, mas certamente será mais prejudicial para a candidata do PT, que, além de perder a importante característica de ser a única representante feminina na disputa, perderá também uma parte do eleitorado de esquerda do PT, que veria em Marina uma alternativa política.

Esses eleitores poderiam também ser eventuais apoiadores da candidatura de José Serra pelo PSDB, especialmente nos centros urbanos maiores e capitais, caso o governador paulista venha a ser confirmado como o candidato do partido, e nesse caso também Serra sairia prejudicado.

Em especial no Rio de Janeiro, onde o PSDB está armando o apoio a uma candidatura do deputado verde Fernando Gabeira ao governo para que o candidato tucano ganhe um palanque forte num estado em que o partido é tradicionalmente fraco.

A possibilidade de Gabeira dar seu palanque para dois candidatos à Presidência — a candidata do PV Marina Silva e o dos tucanos — já está sendo discutida, da mesma maneira que candidatos a presidente poderão ter dois palanques em alguns estados.

De qualquer maneira, é importante ressaltar que o efeito de candidaturas como as de Heloísa Helena e Cristovam Buarque só foi pequeno porque do outro lado estava Lula.

Outro fato importante foi a decisão do deputado Ciro Gomes de explicitar sua preferência pela disputa pela Presidência da República, em vez de se candidatar ao governo de São Paulo, como quer o presidente Lula.

Além do mais, Ciro deu um passo adiante e disse que, mesmo que viesse a se candidatar ao governo de São Paulo, não assumiria o papel "mesquinho" de atacar Serra, a quem classificou de um "ótimo governador".

Com essa atitude cuidadosa, Ciro mostrou que em São Paulo atua com a mesma cautela que, a nível nacional, a oposição tem em relação a Lula.

O PSB, que tem problemas com a hegemonia de PMDB e PT na base do governo, já tem demonstrado por diversas vezes que pode ter uma atitude independente na corrida presidencial.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o próprio Ciro Gomes já disseram que, se o governador de Minas, Aécio Neves, for o candidato do PSDB à Presidência, o partido vai com ele.

Por sua vez, até mesmo o PSB paulista, que faz parte da coligação do governo Serra, já avisou que não apoiaria uma candidatura contra o esquema político do governador tucano, e mais que isso, anunciou que apoiará sua eventual candidatura à Presidência da República.

É um exagero de Ciro Gomes dizer, como fez na entrevista ao jornal "Valor Econômico" de ontem, que a candidatura de Marina implodirá a de Dilma Rousseff, mas a dificuldade de Lula transferir votos parece estar se refletindo nas pesquisas de opinião.

Montenegro, do Ibope, tem uma boa tese a respeito.

Ele lembra que os exemplos de transferência de popularidade política que ficaram famosos aconteceram quando não havia a possibilidade de reeleição no país.

Todos os casos eram de prefeitos ou governadores que estavam bem cotados na opinião do eleitor, e eleger o "poste" que indicavam era uma maneira de garantir que sua administração teria continuidade: em 1991, o governador Orestes Quércia elegeu seu secretário Luiz Antonio Fleury Filho, e em 1997, o prefeito do Rio Cesar Maia elegeu seu secretário Luiz Paulo Conde e o prefeito de São Paulo Paulo Maluf elegeu Celso Pitta.

Hoje, o período de 8 anos de mandato possível com a reeleição já daria ao eleitor, na avaliação de Montenegro, a sensação de missão cumprida.

O presidente do Ibope acha também que o brasileiro é ainda traumatizado com problemas de saúde dos candidatos, desde a morte de Tancredo Neves. E considera que o sofrimento do vice-presidente José Alencar na sua luta contra o câncer, se por um lado leva a que os cidadãos o admirem e torçam por sua recuperação, faz também com que fiquem apreensivos com os problema de saúde da ministra Dilma Rousseff.

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