Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 01, 2009

Celso Ming -Máquina emperrada


O Estado de S. Paulo - 01/08/2009
 

 

 
Como as coisas da vida, a queda do PIB no segundo trimestre do ano da mais importante máquina do mundo pode ser encarada pelo lado bom ou pelo lado ruim.

Pelo lado bom, há vários pontos a acentuar. Primeiramente, por ter sido bem mais baixa do que o esperado. A queda do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre foi de 1,0% em termos anuais. Os analistas imaginavam uma retração em torno de 1,5%. Em segundo lugar, pelo fato de mostrar que a retração praticamente perdeu velocidade, passando a impressão de que a economia já vem voltando do fundo do poço para a superfície.

Pelo lado ruim, também há o que dizer. Foi completado o quarto trimestre consecutivo de queda da atividade econômica americana e, além disso, é a pior recessão em quase 30 anos. Essa queda começou mais embaixo porque houve uma redução ainda mais acentuada do PIB no trimestre anterior, já que a revisão dos números mostrou queda no primeiro trimestre de 6,4%, e não de apenas 5,7%, como as estatísticas preliminares haviam acusado. Os dados finais de 2008 também foram piores. O PIB caiu 1,9% e não só 0,8%, como dispunham os dados provisórios.

O que conta agora é saber o que vem pela frente. Ainda não dá para dizer que a partir de agora haverá só recuperação e que a crise ficou para trás. Na economia americana, o consumo pesa cerca de 70% na formação da renda nacional. E, neste momento, o consumo está sendo muito castigado por dois principais fatores.

O primeiro deles é o aumento do desemprego. Os números do Departamento do Trabalho apontam redução de 6,5 milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos desde dezembro de 2007, mês em que começou a recessão. Além disso, a própria recuperação da atividade econômica se fará com redução de postos de trabalho. Em toda a economia, as empresas estão cortando pessoal ou, então, contratando menos do que antes. Basta dar uma espiada para ver o que está acontecendo com as montadoras de veículos. Os assalariados estão aceitando remuneração mais baixa pela mesma carga de trabalho. O desemprego nos Estados Unidos aumentou de 4,9% ao final de 2007 para 9,5% em junho deste ano, último dado disponível. E os especialistas esperam que, no início de 2010 atinja 10%. Isso significa que a massa de renda do consumidor tende a diminuir e, com isso, reduzir a velocidade da recuperação.

O segundo fator que tende a conter o consumo é a continuada desvalorização do patrimônio das famílias americanas. Os preços das casas, em geral o principal ativo de uma família, caíram 17% em um ano. As aplicações financeiras vêm proporcionando um retorno dificilmente superior a 3% ao ano. Os fundos de pensão perderam reservas e isso sugere ao americano que a renda futura de sua aposentadoria corre riscos, o que exige ampliar a poupança pessoal e, portanto, reduzir o consumo.

O aumento das dificuldades da economia americana realça a boa fase relativa da economia brasileira, que deverá terminar o ano com um crescimento em torno de zero por cento. Se isso ficar confirmado, poderá ser o quinto do Planeta.

Nada mau para o Brasil, desde que o governo Lula não faça nenhuma grande besteira na condução da política econômica.

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