Economistas de FHC e ligados ao tucanato apresentam em livro sugestões para atenuar os efeitos da crise no Brasil
ECONOMISTAS que integraram o governo FHC e companheiros de viagem do tucanato reuniram sugestões contra a crise num livro virtual a ser publicado em breve. Trata-se de "Como Reagir à Crise", coletânea organizada por Edmar Bacha e Ilan Goldfajn e editada pela Casa das Garças, instituto de estudos econômicos liberal.
Do primeiro escalão do governo FHC escrevem Pedro Malan, Chico Lopes, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Armínio Fraga e André Lara Resende. Os autores, menos um, trabalham no mercado financeiro ou são consultores financeiros. Para não baratear ainda mais os argumentos, citemos apenas sugestões de Franco, Bacha e Fraga. Franco é otimista. Não vê excessos no crédito, embora demasias nos IPOs e no mercado de capitais tenham causado exageros no setor imobiliário e de biocombustíveis.
Empresas e bancos são pouco alavancados. O contágio deveu-se à seca de crédito externo. O excesso de compulsórios, porém, piorou a crise, pois já elevava o custo de captação de bancos. Para que o crédito volte a fluir, sugere: 1) reduzir compulsórios; 2) mudar a rolagem da dívida pública de curtíssimo prazo, "com alguma "punição" para o excesso de recursos de bancos repassados ao BC"; 3) reduzir impostos sobre empréstimos a fim de baixar o "spread" bancário; 4) criar um seguro para empréstimos interbancários.
Para Franco, "não temos fraquezas fiscais". Mas rejeita ainda mais gasto público. Sugere, ao invés, menos imposto sobre o investimento privado. Critica a inabilidade da política de reservas e de câmbio, em especial a lenta reação do BC ao estouro dos derivativos cambiais. Bacha e Fraga observam que país caminhava para déficits externos insustentáveis, dados o excesso de consumo privado e de gasto público e a valorização do real, devida também a juros altos. Tal situação se sustentava apenas devido ao boom da exportação de commodities. A seca de crédito e o fim do boom deram cabo da bonança.
Bacha propõe que se facilite a transferência de recursos, via crédito, do setor de commodities para manufaturas que ora ganham competitividade. Quanto à seca de crédito, sugere recorrer a "nossos vícios que se tornaram virtudes". Isto é, usar as reservas internacionais ("viciadas" porque financiadas por dívida pública), bancos estatais e reduzir os altos juros e depósitos compulsórios. "Medidas de política creditícia compensatória atacam o mal pela raiz." Fraga é mais refratário ao uso de bancos estatais contra a crise: se bancos privados limitam o crédito, é porque temem perder dinheiro. Há riscos nessa receita, diz Bacha: inflação, real ainda mais fraco, empréstimos ruins de bancos estatais. Além do mais, o risco de déficit externo alto persistirá se o crescimento seguir forte. Fraga diz o mesmo, de modo menos pessimista.
"Quanto maior controle sobre o gasto corrente do governo, maior poderá ser a expansão creditícia compensatória sem afetar negativamente as contas externas", escreve Bacha. "Caso o governo exagere na dose anticíclica fiscal e creditícia, corre-se o risco de se desperdiçar uma possível, rara e não muito distante oportunidade de redução da taxa de juros", escreve Fraga.
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, dezembro 14, 2008
Vinícius Torres Freire Garças e tucanos bicam a crise
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