Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Cautela do governo ajuda BC, diz Armínio


Mercado Aberto
Folha de S. Paulo - 10/12/2008

O resultado do PIB do terceiro trimestre foi mesmo surpreendente, bem acima das previsões dos economistas, mas já ficou para trás. O retrato hoje da economia é muito diferente dos números divulgados ontem pelo IBGE.
"Os sinais de desaceleração da economia são evidentes", diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Gávea Investimentos. "Todas as informações positivas [do PIB] constituem uma imagem refletida pelo retrovisor", diz Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco.
Os números do PIB do terceiro trimestre são mesmo muito favoráveis. Trata-se do 27º crescimento consecutivo na comparação de trimestre contra trimestre anterior, o que configura o mais longo ciclo de expansão da série trimestral do IBGE, a partir de 1991. Com o crescimento de 6,8% contra o ano passado, o PIB acumula uma alta de 6,3% nos últimos quatro trimestres, a mais elevada desde 1995.
Segundo Octavio de Barros, a taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) atingiu seu maior patamar, de 20,4% no terceiro trimestre, o que favoreceu a elevação do PIB potencial para 5,3%.
Apesar desses números positivos, ainda é elevada, pelos cálculos de Octavio de Barros, a possibilidade de recuo do PIB no quarto trimestre. Sua previsão é de uma queda de 1% no quarto trimestre em relação ao terceiro, o que fará com que o PIB cresça 5,8% neste ano.
Armínio Fraga também acha que são grandes as chances de registro de números negativos do PIB neste e no próximo trimestre comparando trimestre contra trimestre anterior. Mas ele diz que não fez as contas.
Octavio de Barros enumera quatro fatores que corroboram sua tese da freada brusca na economia: 1) a queda das exportações (tanto em volume como em valor), principalmente das commodities; 2) as restrições de liquidez; 3) a redução da confiança dos consumidores e dos empresários, o que afeta principalmente os investimentos; 4) os sinais de maior cautela dos empregadores, apesar de o mercado de trabalho continuar favorável.
Diante dessa nova realidade e da confirmação de novos sinais de desaceleração mais forte, Octavio de Barros afirma que será inevitável antecipar a discussão sobre a redução dos juros. Para a reunião do Copom desta semana, no entanto, a maior probabilidade é de manutenção da taxa no atual patamar, de 13,75% ao ano.
Armínio Fraga prefere não falar de juros. "Quem passou por lá não fala." Ele diz, no entanto, que o governo precisa manter cautela nas decisões a serem tomadas. A resposta deveria ser gradual, mas segura.
"Se o governo tiver cautela, o Banco Central vai ter mais espaço para trabalhar", afirma Armínio Fraga.
O ex-BC diz, no entanto, que o mundo vive hoje um momento sem precedentes. Ninguém, a seu ver, consegue prever com exatidão o que vai acontecer. A crise econômica é muito grande e a resposta dos governos tem sido muito agressiva. E, mesmo assim, a incerteza é enorme, o que, para Armínio, é o que mais assusta.

Mantega deve anunciar hoje novas medidas

A exemplo do que fez com a Fiesp na sexta-feira passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reúne-se hoje, em Brasília, com as seis maiores centrais sindicais do país para fazer um diagnóstico da crise e ouvir as reivindicações dos trabalhadores.
Após o encontro, Mantega deve anunciar algumas medidas de impacto para tentar minimizar os efeitos da crise financeira no Brasil.
Na reunião de sexta na Fiesp, Mantega tinha afirmado aos empresários que iria fazer o anúncio nesta semana. Só dependia do sinal verde do presidente Lula.
As medidas a serem tomadas estavam sendo decididas ontem à noite. O anúncio das novas ações pode servir de contraponto à provável decisão do Copom, que também será tomada hoje, de manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, o que deve frustrar tanto os empresários quanto os trabalhadores.
Há semanas, a Fazenda estuda a aplicação de um novo pacote com o objetivo de estimular o crescimento da economia em 2009.
As medidas compreendem benefícios fiscais para o estímulo ao crédito, postergação de pagamento de alguns impostos, aumento das parcelas do seguro-desemprego e algumas vantagens para determinados setores mais afetados pela crise econômica, como bens de capital, construção civil, agrícola e automobilístico.
Também estavam na mira do governo algumas medidas para incentivar os bancos a liberarem mais recursos para o crédito. Os bancos públicos podem ser usados nessa estratégia.

DOU-LHE UMA

O mercado de arte asiática, que entrou para o roteiro dos leilões mundiais no ano passado, começa a perder força, segundo a agência especializada Artprice. Este ano foi de muita expectativa para os leiloeiros da Sotheby"s e da Christie"s, mas acabou em decepção. As vendas, que cresciam a cada temporada em Hong Kong, caíram com a crise. O número total saltou de US$ 120 milhões no primeiro semestre de 2007 para US$ 173 milhões no segundo. E, no primeiro semestre deste ano, chegou a US$ 198 milhões. No segundo semestre, a taxa de não-vendidos bateu em 35%. Em abril, US$ 5,4 milhões foram pagos pelo trabalho "Bloodline: The Big Family No. 3", do artista chinês Zhang Xiaogang. Seis meses depois, apenas uma de quatro telas do artista apresentadas pela Sotheby"s achou comprador em Hong Kong.

LUXO CANINO
Cachorro dentro de banheira do hotel de luxo Canis Resort, em Freising, na Alemanha; a Canis Resort é a primeira rede de hotéis para cachorros do mundo e abre suas portas no dia 15 deste mês

CONTA DE GÁS
O governador José Serra não vê com bons olhos o repasse integral da defasagem na tarifa de gás natural solicitado pela Comgás. O tucano tem dito que, neste contexto de crise econômica, o Estado não pode autorizar um reajuste muito forte no preço do produto. O pedido da distribuidora, que chega a 46% no caso do GNV (Gás Natural Veicular), está em análise pela área de energia do governo paulista.

MUDANÇA
Andrés Taihei Fuentes Kikuchi é o novo chefe da área de pesquisa da Link Investimentos.

RUMOS
Os economistas Alcides Tápias, Alcides Amaral, Horácio Lafer Piva e Roberto Troster se reúnem, na sexta, no evento Bússola dos Negócios 2009, promovido pela Spread, em SP. Na pauta, o cenário econômico mundial.

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