Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 14, 2008

Clara insensatez EDITORIAL O Globo





14/8/2008

Pode ser que o local e o momento tenham despertado no presidente Lula sua conhecida habilidade de falar o que as platéias querem ouvir. Seja qual tenha sido a motivação, não se pode deixar passar sem crítica a defesa feita terça-feira, no Rio, perante militantes da UNE - hoje uma correia de transmissão do PCdoB e do governo -, de mudanças na Lei do Petróleo, para pretensamente adequá-la à exploração das promissores áreas no pré-sal. Os fatos contrariam o presidente.

Vamos a eles. A Petrobras anunciou recentemente a descoberta de mais um campo de petróleo na camada de pré-sal, em uma profundidade de mais de cinco mil metros. Batizado preliminarmente de Iara, o poço descoberto fica em uma área contígua ao campo de Tupi, no mesmo bloco de concessão (BM-S-11), na Bacia de Santos, em águas ultraprofundas, a mais de 200 quilômetros da costa do Rio de Janeiro. É entusiasmante que as novas perfurações estejam sendo bem-sucedidas, e a custos mais baixos do que as avaliações exploratórias iniciais no pré-sal da Bacia de Santos. Ainda que somente os testes de longa duração possam de fato definir a capacidade futura de produção desses campos, os técnicos parecem não ter mais dúvidas que serão muito produtivos.

Foi a evolução do processo exploratório, motivado pelo atual modelo de concessões e impulsionado pelos altos preços do petróleo no mercado internacional, que levou a Petrobras e companhias parceiras a descobrirem os reservatórios da camada do pré-sal.

Com os lucros que vem obtendo, a Petrobras conseguirá financiar uma parte significativa dos seus investimentos sem necessidade de recorrer a um endividamento oneroso que possa ter impacto negativo nos seus resultados no futuro. Essa condição econômico-financeira vantajosa permite que a empresa faça parcerias sólidas com outras companhias do setor, de forma a multiplicar essa capacidade de investir. Como o atual modelo de concessões é competitivo, a disputa para exploração de novos blocos no pré-sal será acirrada, pois outros investidores pesos pesados devem se interessar também pelas licitações. Assim, antes mesmo de se retirar uma gota de petróleo dos novos campos, os cofres públicos já estarão se beneficiando - com o recebimento dos bônus de assinatura - da exploração e produção no pré-sal. Empacar tudo isso com mudança desse modelo, que está "em pleno vôo" e dando certo, é clara insensatez, além de prejudicar os acionistas da Petrobras. Ainda mais se o governo decidir criar mais uma estatal com esse fim - sonho do PMDB e de aparelhistas em geral.

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