Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 13, 2008

Tentáculos das Farc


editorial
O Globo
13/5/2008

Os recentes acontecimentos envolvendo as Farc, a Venezuela e o Equador mostraram que a atuação desse grupo narcoterrorista há muito transcende o território da Colômbia, onde ele foi criado na década de 60, e, até hoje, entre outras atividades - como seqüestros e ataques -, luta para derrubar sucessivos governos eleitos.

Um levantamento do Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, publicado neste jornal domingo, desvenda a expansão sub-reptícia das Farc pelo continente. As reportagens do GDA revelam que o movimento, desde 2002 - quando o presidente Alvaro Uribe chegou ao poder na Colômbia -, vem lançando mão de militantes, supostamente refugiados, que se estabelecem em outros países para montar núcleos de apoio ideológico, financeiro e logístico.

O Peru é usado para arregimentar milicianos e obter armas e drogas. O Equador, além de abrigar acampamentos guerrilheiros em áreas de fronteira, é um bastião financeiro. Venezuela, Costa Rica e México servem para lavagem de dinheiro do narcotráfico, uma das fontes de recursos das Farc. Chávez, na Venezuela, dá forte apoio ideológico e político ao grupo, que tem no México e na Costa Rica firmas de fachada. O Brasil, com suas imensas fronteiras amazônicas, faz parte das rotas de escoamento de drogas e envio de armas. A Argentina tem recebido "refugiados" teleguiados das Farc.

O esquema, segundo o levantamento do GDA, possibilitou à narcoguerrilha montar uma rede de 400 organizações no continente - de partidos políticos legais a ONGs e movimentos revolucionários clandestinos. O próximo objetivo é ampliar sua presença nos EUA, onde já funcionam uma ONG ambientalista e um centro de estudos.

É um plano capaz de pôr em perigo a estabilidade da região, sobretudo se as forças verdadeiramente democráticas não trabalharem em conjunto para detê-lo. Principalmente porque as Farc têm o respaldo de regimes dito democráticos, mas que na verdade usam um manto "socialista" para disfarçar seu caráter populista e autoritário - como se houvesse contradição entre estes predicados -, numa recriação do caudilhismo que a América Latina pensava ter sepultado. É o caso, sobretudo, da Venezuela de Hugo Chávez, e seus aliados em Bolívia e Equador.

Governos como o do Brasil devem agir com firmeza para monitorar e neutralizar a tentativa de exportação de um modelo que nada tem a ver com a democracia, com a modernização política e econômica e com a real melhoria das condições de vida dos povos da região.

Arquivo do blog