Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 13, 2008

Ajustar o foco


editorial
O Globo
13/5/2008

O desdobramento mais recente do choque entre situação e oposição em torno dos gastos das primeiras famílias nos governos FH e Lula parece rumar para confirmar uma regra: sabe-se como começa uma CPI, mas nunca como acaba.

Mesmo controlada pela bancada governista, a CPI do Cartão Corporativo consegue, por sua simples existência, manter acesa a história do dossiê montado na Casa Civil da Presidência da República, a partir de informações sobre os gastos com a despensa de Fernando Henrique e Ruth Cardoso, com a finalidade de atemorizar a oposição.

É provável que o assunto já estivesse engavetado, com o afastamento de Erenice Guerra, principal assessora da ministra-chefe da Casa Civil, se Dilma Rousseff não fosse a carta da vez no jogo da escolha do nome que o presidente Lula apoiará para substituí-lo no Palácio do Planalto. Pois não parece haver maiores dúvidas de que coube a Erenice arregimentar mão-de-obra na Casa Civil para montar o arsenal de contra-ataque à pressão oposicionista visando a abrir a caixa-preta dos gastos injustificáveis feitos por meio dos tais cartões corporativos no governo Lula. Inclusive em palácios.

O governo cerrou fileiras em torno de Dilma, e o assunto passou a ganhar sucessivos sopros de sobrevida. Entre os mais vigorosos está o surgimento de um personagem que parece chave na trama, José Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da Casa Civil, deixado por José Dirceu de herança para Dilma.

Agastado com a ministra e Erenice Guerra, Aparecido Nunes Pires prometeria "contar tudo" - entendendo-se por "contar tudo" relatar o making of da operação, em que Erenice, tudo indica, foi protagonista de primeiro plano.

Esconder o sol com a peneira é a expressão popular que melhor se aplica à tentativa vã do governo de fazer crer que a compilação de dados sobre os gastos com a despensa do primeiro casal na era tucana não passou de um ato administrativo, burocrático, de criação de um "banco de dados".

Ontem, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, anunciou que José Aparecido não fazia mais parte da equipe da Casa Civil. Isso nada muda na questão do uso de informações de arquivos do Estado com fins político-partidários. E ainda persiste o risco de todo esse imbróglio desviar o foco da urgente necessidade de se estabelecer uma transparência institucional na aplicação do dinheiro arrecadado na sociedade por impostos escorchantes.

Arquivo do blog