Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 03, 2008

Rankings ajudam na escolha da escola dos nossos filhos

Termômetro do bom ensino

Os rankings ajudam os pais num momento decisivo:
o de escolher uma escola para os filhos


Camila Pereira

Lailson Santos
O estudante Fernando com o pai: o Enem ajudou a definir o novo colégio

Escolher uma escola na qual matricular os filhos sempre foi, no Brasil, um processo mais intuitivo do que propriamente racional. Os pais costumavam tomar essa decisão baseados em visitas aos colégios e ancorados na experiência alheia. O único medidor objetivo no horizonte eram as taxas de aprovação das escolas no vestibular. E só. O cenário começou a mudar três anos atrás, quando o Ministério da Educação (MEC) passou a divulgar o resultado dos colégios no Enem, uma prova de conhecimentos gerais aplicada aos estudantes no fim do ciclo escolar. Com ela, houve um avanço. Tornou-se possível, afinal, comparar as escolas por meio de um ranking. Ele está, de fato, sendo usado com esse fim, segundo aponta um levantamento com base nos três últimos exames. Chamam especial atenção os números relativos aos dez colégios particulares com melhor desempenho desde 2005. Num período em que as matrículas no ensino médio minguaram 9% no país, o número de novos alunos nessas escolas campeãs subiu até 40%. Isso ajuda a mensurar o raio de influência da avaliação oficial na vida de pessoas como o publicitário Randal Soares. O fato de o Vértice, um colégio de São Paulo, ter surgido no topo do ranking nacional foi decisivo para que Soares tomasse a decisão de ali matricular os filhos Fernando, 15 anos, e Isabela, 12. Ele resume um pensamento geral: "Ganhei uma espécie de bússola para rastrear o bom ensino".

Márcio Lima
A médica Ivana, mãe de Luiza, mudou-se para a Bahia: sem conhecer nenhuma escola, a solução foi olhar para o topo do ranking


Os especialistas chamam atenção ainda para outro efeito positivo de avaliações como o Enem – esse, menos visível. Ao jogarem luz sobre o mau resultado de determinadas escolas, os rankings, de certo modo, obrigam-nas a melhorar. É uma questão básica de sobrevivência. Quem não elevar o nível das aulas provavelmente perderá alunos. Isso já ocorreu com universidades, cuja qualidade de ensino é avaliada e comparada há mais tempo no Brasil. Uma pesquisa feita pelo MEC mostra que, em faculdades com cinco anos consecutivos de notas baixas, as inscrições no vestibular caíram pela metade. A reação? Elas dobraram o número de professores com mestrado ou doutorado. A avaliação das escolas no Enem é algo mais recente, portanto ainda não há sobre ela dados tão consolidados. Existem, no entanto, alguns bons exemplos de como certos colégios têm feito esforço para avançar. Depois de não figurar no topo por três anos seguidos, o tradicional Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, colocou em ação uma espécie de plano de emergência. Passou a oferecer aulas extras e criou uma disciplina para tratar alguns dos assuntos da atualidade sobre os quais os estudantes revelaram mais desconhecimento no exame oficial. Essa e outras tantas escolas não escondem a intenção de treinar os alunos para o próximo Enem, de modo a ganharem posições no ranking. Diz Claudia Xavier, diretora do Porto Seguro: "Um bom resultado na prova é uma vitrine para o colégio".

Essa competição entre as escolas particulares, impulsionada pelo Enem, se dá num contexto em que a disputa por novos alunos nunca foi tão acirrada. De um lado, o número de colégios de ensino médio se expandiu 6% nos últimos cinco anos. De outro, o total de estudantes despencou 9% – e eles se tornarão ainda mais escassos. Por uma razão simples: a cada ano, os brasileiros têm menos filhos. Diante desse cenário, as escolas ganham uma razão a mais para prestar atenção no Enem e nas demais avaliações do MEC. Com uma nota ruim, elas perdem fôlego para concorrer por novos alunos. Se vão bem na prova, têm um trunfo na mão. Não causa espanto o fato de muitos desses colégios bem-sucedidos no exame investirem em publicidade, com o objetivo de chamar atenção para o resultado. Diz o especialista Ryon Braga: "A competição motivada pelos rankings tem funcionado há décadas como motor para o bom ensino em países desenvolvidos".

O Enem surgiu há dez anos com o propósito de medir o nível de conhecimento dos estudantes – e não propriamente para aferir a qualidade das escolas. Ele tem sido usado pelos alunos no ingresso em mais de 500 faculdades no país. Em certos casos, a nota se soma à do vestibular. Em outros, o Enem já substitui a prova tradicional. Os especialistas fazem uma ressalva à aplicação do exame como ferramenta para avaliar os colégios. Diz respeito a seu caráter voluntário. Como só faz a prova quem quer, pode haver distorções nos resultados. Do ponto de vista estatístico, a ponderação faz sentido. O MEC defende a divulgação dos rankings, no entanto, com base em dois argumentos. O primeiro é que os técnicos conseguem minimizar as eventuais distorções por meio de recursos estatísticos. O segundo argumento é que cerca de 80% dos estudantes das boas escolas particulares já comparecem à prova. Esse é, até então, o único indicador disponível – e ele tem sido útil a gente como a médica Ivana Freire. Recém-chegada de Mato Grosso a Feira de Santana, na Bahia, ela desconhecia as escolas da cidade. Decidiu, então, matricular a filha Luiza, de apenas 4 anos, no colégio campeão do estado, o Helyos. Em um momento tão crucial para os pais quanto o da escolha de uma escola, os rankings representam, sem dúvida, um grande avanço.

Com reportagem de Milena Emilião

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