Gustavo Franco, ex-BC, compara projeto a "feitiçaria" com reservas internacionais
Em homenagem no Rio, Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda de FHC, afirma que falta ao Brasil superávit na balança de pagamentos
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO
Os economistas responsáveis pela implantação do plano de estabilização econômica receberam ontem à noite, na Câmara Municipal do Rio, a medalha Pedro Ernesto, a mais importante comenda da cidade.
Para Gustavo Franco, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda (governo Itamar) e depois presidente do Banco Central (governo FHC), trata-se de uma péssima idéia. "Isso me lembra muito diversos tipos de feitiçaria que no passado se quis fazer com reservas internacionais." Segundo ele, o Brasil será o único caso em que o fundo soberano toma dinheiro emprestado para funcionar e é feito para perder dinheiro.
Na avaliação do economista Edmar Bacha (ex-assessor especial da Fazenda), o país não tem dinheiro para criar um fundo soberano. "Nós vamos nos endividar para aplicar no fundo, que vai render menos do que vai custar a dívida com a qual vai ser comprado", afirmou. Segundo ele, o país caminha para um déficit nominal de 2% do PIB este ano e ainda vai gastar mais dinheiro para criar o fundo. "É contraproducente."
O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan afirmou que existem dificuldades na implementação do fundo. "A experiência mostra que ele existe em países que têm superávit no balanço de pagamentos em conta corrente, o que não é o caso do Brasil. Existem outras experiências, como a do Chile, que aprendeu ao longo de décadas que, quando tem elevação no preço do cobre, faz um acúmulo e uma tentativa de estabilizar a economia, mas não chega a ser um fundo soberano", afirmou.
Segundo Franco, no décimo aniversário do Plano Real. afirmou que estavam prescritos os dividendos políticos e que se tratava de uma conquista de toda a sociedade.
Para Malan, não é possível saber quantos brasileiros ainda se lembram da "marcha da insensatez" da inflação alta, crônica e crescente do passado. Ao fazer um balanço da economia atual, destacou que o PT manteve as propostas do plano. "Parte do atual governo contribuiu para o sucesso, mas é um erro a tentativa de apropriação exclusiva do processo", disse.