| O Estado de S. Paulo |
| 15/5/2008 |
As razões objetivas já foram amplamente expostas, assim como foram bastante bem esmiuçadas pelos especialistas as possíveis conseqüências - simbólicas e concretas, positivas e negativas - da saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Mas a demissão dela não falou apenas de uma coleção de derrotas no embate com outros setores do governo, de visões conflitantes no trato da questão ambiental, de entraves à execução de obras ou de machucados à imagem do governo. A saída de Marina Silva teve, sobretudo, o caráter pedagógico de falar ao País, e ao presidente Luiz Inácio da Silva em particular, sobre noção de limite. Ao tomar a decisão de forma irrevogável e unilateral, Marina disse a Lula o que já estava na hora de alguém “de dentro” dizer: que o poder e o poderoso podem muito, mas não podem tudo. O poderoso não pode, por exemplo, humilhar, tripudiar, pintar e bordar, porque poder e popularidade não conferem a ser humano algum a prerrogativa de prevalecer sobre os demais. É a regra do ditado: semeou vento, mais dia menos dia na colheita virá a tempestade. Segundo sua assessoria, o presidente ficou muito aborrecido com a forma escolhida por Marina para se demitir. Achou injusto ser pego de “surpresa” com a demissão antes divulgada para a imprensa, para ele uma maneira de a ministra fazer de seu gesto um “espetáculo”. Ainda de acordo com assessores, o presidente ficou especialmente irritado com o estratagema engendrado por Marina Silva para se fazer de “vítima”, deixando para o governo o papel do vilão internacional. Os ambientalistas e as ONGs estrangeiras farão de Lula um demônio e de Marina uma deusa que, nesse figurino - rezam os tradutores da alma presidencial -, disputará com garantia de sucesso a renovação do mandato de senadora em 2010. Recapitulando: Lula reagiu mal à demissão de Marina não porque considerasse seus dotes profissionais específicos indispensáveis ao bom desempenho da política ambiental, mas porque ela produziu um espetáculo no qual ficou no melhor papel, posou de vítima e - suprema impertinência - maquiou por trás do gesto intenções meramente eleitorais. Ou seja, na avaliação palaciana foi egoísta, ladina e vingativa, injusta, um horror. Ainda que a análise esteja absolutamente correta e Marina mereça os adjetivos, de indisciplina não poderá ser acusada, pois se limitou a seguir o modelo de cima. Lula é a última pessoa autorizada a fazer aquelas acusações, pois é o primeiro a “espetacularizar” os próprios atos, a se fazer de vítima para acuar o adversário e a agir conforme a agenda da próxima eleição. Lealdade tampouco é algo que Lula possa cobrar de Marina. Se estava insatisfeito com a atuação da ministra, como dizem seus auxiliares, deveria tê-la demitido. Se não o fez por cálculo político, com receio da reação internacional, não jogou aberto e não pode exigir transparência na recíproca. O presidente reclama do fato de não ter sido avisado antes da demissão. E por acaso ele se deu ao trabalho de avisar a ministra antes quando em solenidade oficial, e na presença dela, expressou publicamente seu menosprezo aos protetores de “bagres”? Não avisou quando quis chamar de “alarmistas” e antipatriotas os que, como a então ministra do Meio Ambiente, alertavam para o avanço do desmatamento. Também não comunicou a entrega da Amazônia aos cuidados daquele professor de sotaque arrevesado que antes de ganhar um cargo costumava qualificar o presidente e seu governo como os mais “corruptos da história” do Brasil. De tudo o que foi dito sobre a reação do presidente à demissão de Marina Silva, apenas sua surpresa diante da atitude dela é compreensível. Afinal, Lula está acostumado com padrão de comportamento diferente: a reverência servil, a bajulação sem medidas a um poder pretensamente absoluto e inesgotável, capaz de quebrar a mais firme das convicções. Quando encontra pela frente alguém feito de outro material, natural que leve um susto. Celebrado como o inventor da esperteza, não contava com a esperteza da pequena (por fora) e tinhosa Marina, que tratou de servir a mesa do almoço antes de ser servida como pasto no jantar. A volta Sibá Machado, suplente de Marina Silva, foi um aliado dos sonhos para o Palácio do Planalto: precisou, Sibá estava lá. No retorno da titular ao Senado, o governo não poderá contar com o alinhamento automático da voz e do voto de Marina Silva. A substituição O governo promete a continuidade da linha adotada por Marina no Ministério do Meio Ambiente, mas não entregará a mercadoria, pois agirá como lhe convier. Além de não ter a força nem o simbolismo da antecessora, Carlos Minc responde politicamente ao governador Sérgio Cabral, cujo propósito primeiro é não desagradar ao presidente. |
Entrevista:O Estado inteligente
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