O Estado de S. Paulo |
14/5/2008 |
É preciso reconhecer: o governo evoluiu muito e já se pode mesmo afirmar que inova no quesito transparência de procedimentos. Nunca se viu uma operação “abafa” tão explícita como essa da demissão do secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Pires, apontado como o responsável pelo “vazamento” do dossiê produzido para constranger a oposição e levar a CPI dos Cartões Corporativos à morte por inanição. Louve-se um governo que não se vale de disfarces, embora ainda se possa questionar a existência de critérios de seletividade para a aplicação da transparência. Aparecido vai à CPI, com a concordância da base governista e depois de ter o tapete vermelho estendido em sua saída do Palácio do Planalto, mas a ministra Dilma Rousseff e sua subordinada imediata, Erenice Guerra, não vão. Não há motivos, dizem os governistas, pois por ora nada há mais a esclarecer: com raiva de Dilma, Aparecido, homem de confiança de José Dirceu, mandou o dossiê para um assessor do senador Álvaro Dias, que entregou para a imprensa, e isso não só explica tudo, como faz da ministra a verdadeira vítima. Como, aliás, ela fez questão de pontuar várias vezes durante o seu depoimento no Senado, um dia antes da “descoberta” do “vazador” por meio de investigação de instituto técnico vinculado à Casa Civil. A se tomar como verdadeiras essas histórias, a zelosa mãe do PAC ficaria devendo como dona de casa - no caso, a Casa Civil. Por elas, em sua repartição a ministra permite que funcionários de altas funções se hostilizem, mantém em posto de confiança alguém de quem desconfia, passa a mão na cabeça de um funcionário malfeitor e não se insurge contra os desleais que a deixaram mentir em público, embora soubessem da existência do dossiê. Se Dilma, a gerente do todo, gerenciasse de fato assim a sua parte, haveria agora de apresentar suas escusas e declarar-se na impossibilidade de cumprir a contento suas tarefas. Como tal ato é tão impossível quanto inverossímeis são as hipóteses acima, cumpre submeter essas histórias ao crivo de critérios racionais. Feito isso, temos um quadro mais realista: a ministra dispõe de perfeito controle sobre as ocorrências de sua repartição, incorpora as hostilidades entre subordinados ao modo petista de disputar o poder interno no partido e, quanto ao dossiê, não há divergências: sempre estiveram todos juntos na missão de manter os gastos da Presidência da República longe de qualquer coisa remotamente parecida com investigação. José Aparecido Nunes não é, no aspecto externo da luta, um inimigo. Como também não o é o ex-ministro José Dirceu ou quaisquer grupos de petistas quando se trata de defender a integridade da redoma protetora à figura de Luiz Inácio da Silva. Não se pode esquecer de como tudo começou. Constatado o crescimento exponencial dos gastos com cartões corporativos, a oposição falou em abrir uma CPI, mas acabou vendo o governo tomar a iniciativa e propor ele mesmo a comissão. Soou esquisito, mas logo se esclareceria a razão, quando despesas feitas na gestão Fernando Henrique Cardoso passaram a ser assunto de conversas de ministros com jornalistas e a freqüentar reuniões de parlamentares na fase de formação da CPI. O governo se preparara e, por isso, tomara a iniciativa de propor a comissão. Sabia-se dono da munição mais forte, pois só ele dispunha das informações, todas armazenadas na Casa Civil. A idéia era patrocinar um zero a zero com a oposição e esperar a CPI morrer. E assim aconteceu, dentro do previsto até a ocorrência do imprevisto: o dossiê, feito para usufruto ameaçador, mas interno, foi parar na imprensa. Da negativa peremptória inicial até a versão agora em cartaz sobre um descuidado, desleal, mas homenageado vazador, foram tantas as emendas que o governo perdeu o fio da meada e se esqueceu da existência de um dossiê a respeito do qual durante semanas se vangloriou. Ajuizada A frase “perco o pescoço, mas não perco o juízo”, dita por Marina Silva em dezembro de 2006, ocorre de imediato à mente diante do pedido de demissão do Ministério do Meio Ambiente. Dura e sistematicamente criticada no governo desde o primeiro mandato de Lula, só naquela vez Marina passou recibo em público. Os ataques partiam de todos os lados e há muito tempo. Portanto, é difícil imaginar que a saída dela possa ser atribuída a um fato isolado e mais difícil ainda é acreditar na sinceridade dos lamentos palacianos. Duros na queda Segunda-feira à noite, em restaurante do Leblon, conversa a seis passa em revista a política nacional. Um muda o foco para as prévias norte-americanas, mas o outro de pronto traz de volta: “A Hillary é o Alckmin do Obama.” |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, maio 14, 2008
Dora Kramer - A era da transparência
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