Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

AUGUSTO NUNES- SETE DIAS

Há vagas no céu para todos

Tremenda quarta-feira, pressentiu o presidente Lula ao saber da agenda de 1º de Maio. Estaria longe do serviço em Brasília. Estaria perto de platéias e microfones. Embrulhadas para viagem, promessas de obras do PAC e verbas federais atulhavam o compartimento de carga. E decolaria para a festança política em Alagoas com o índice de popularidade flutuando na estratosfera. Seria uma tremenda quarta-feira.

Em dias assim, Lula sempre retribui a generosidade da Divina Providência com a absolvição de algum pecador companheiro. Foi assim na recente viagem a Pernambuco, onde enxugou lágrimas imaginárias do extorsionário Severino Cavalcanti, condenado por negociatas miúdas a uma temporada no purgatório. Foi assim no dia seguinte.

Grávido de misericórdia, o Grande Pastor absolveu mais um. Ninguém conseguiria abalar a bonita amizade que o liga ao senador Renan Calheiros, avisou. Ao taxiar na pista, Lula já decidira que, em Maceió, absolveria dois injustiçados. Quando os corações são companheiros, não existem pecados imperdoáveis.

Tanto não há que Lula apareceu por lá em companhia do ex-presidente Fernando Collor. Aquele mesmo do episódio Miriam-Lurian. Aquele mesmo do mais medonho insulto sofrido por Lula. Renan e Collor estavam juntos em Brasília quando aplaudiram, em outubro de 1989, a maior das abjeções eleitorais.

Estavam juntos também na quarta-feira, quando festejaram a absolvição de Collor. E juntos aplaudiram a absolvição do governador cearense Cid Gomes, que escondia sob o terno a faixa de Genro do Ano. Teve peito para conquistá-la. Em fevereiro, anexou a sogra à comitiva completada pela primeira-dama e por dois casais amigos, embarcou a turma no jatinho fretado e foi passear na Europa. Gastou R$ 388 mil numa excursão que ficaria bem mais barata se viajasse sozinho, e em aviões de carreira.

Cid se fez de surpreso com a repercussão da façanha. A idéia nem fora dele, informou. Pauline Carol Habib Moura, a sogra, embarcara por sugestão da primeira-dama, Maria Célia, que enxergou a tempo o fantasma da solidão. O maridão estaria às voltas com uma agenda estafante. Não tinha tanta intimidade com as companheiras de comitiva. Poderia levar a mãe?, perguntou a Cid.

Como dizer não? "Elas têm uma ligação muito estreita, minha mulher tem 29 anos", informou o genro. A gaúcha Maria Teresa Goulart tinha 21 quando João Goulart se tornou presidente e 24 quando foi deposto. Estava no exílio quando chegou à idade da cearense Maria Célia. Ficou longe da mãe para ficar ao lado de Jango. Nunca pediu ao marido que chamasse a sogra.

Pior para Maria Teresa, decidiu Lula. "Não podemos permitir que um companheiro como o Cid seja mostrado em nível nacional apenas porque atendeu a um pedido da mulher para levar a mãe da mulher", complicou. "Tem muita coisa mais importante, não que a sogra não seja importante, que ele faz e que não apareceu".

O povo concorda, atestam as pesquisas. Se não esganarem a enteada, se não jogarem a filha pela janela, todos os pecadores merecerão vaga no céu infinito dos bons companheiros.

Cabôco Perguntadô

Ao remexer na pasta com a inscrição "Valdomiro Diniz", uma das 48 guardadas que compõem a coletânea Turma do Zé, o Cabôco achou um recorte publicado oito meses depois da divulgação da fita com o diálogo entre o ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil e um parceiro de bandidagens. A nota limita-se a registrar que Valdomiro andava sumido. Cadê a figura?, insiste o Perguntadô, que reviu a gravação 34 vezes. Ele sempre chora naquele momento em que o ex-companheiro de apartamento do Zé, num fiapo de voz, informa: "Um por cento é pra mim".

O artilheirocomeu a bola

Deputado federal pelo PDT paulista, presidente do partido em São Paulo e presidente da Força Nacional, Paulo Pereira da Silva – o Paulinho da Força – imaginou-se com cacife de sobra para comprar uma briga das boas. Só para vê-los zanzando nos tribunais, avisou, processaria todos os jornalistas que o haviam envolvido em escândalos imaginários. "Já contratei advogados para isso", avisou.

Terá de usá-los para livrar-se da Polícia Federal, que o acusa de ter embolsado uma propina de R$ 325 mil. O artilheiro do verão entrou no outono tentando esconder a bola.

Yolhesman Crisbelles

O troféu da semana vai para o governador Blairo Maggi, marechal do Exército da Soja, que imagina ter encontrado no que resta da Amazônia em seu Estado a fórmula capaz de resolver o problema da fome no mundo. Simples assim:

Temos de discutir se vamos preservar o ambiente ou produzir comida. Não há como produzir mais comida sem ocupar novas áreas e retirar as árvores.

Enquanto o resto do mundo discute, o campeão do desmatamento age. Entre janeiro e março, mais 149 km² da floresta sumiram de Mato Grosso.

Nem sigla fica na orfandade

O crescimento de Dilma Rousseff nas sondagens eleitorais dividiu em dois blocos os especialistas em pesquisas de opinião. O primeiro, convencido de que sempre fica melhor no retrato quem tem fama de esperto, atribui o fenômeno ao espaço ocupado pela ministra no noticiário político-policial sobre o dossiê contra FH. O segundo bloco acha que Dilma foi beneficiária da indignação provocada pelo assassinato da menina Isabella. Milhões de brasileiros nem imaginam o que PAC quer dizer. Mas todos gostaram de saber que, no Brasil de Lula, nem sigla fica sem mãe.

A festa da impunidade

"Abril é o mais cruel dos meses", diz o poema de T. S. Elliot. Pode até ter sido, ressalvam os comandantes do MST. Hoje é o mais divertido, confirmou o balanço oficioso do último "abril vermelho", divulgado no dia 30 pelo site da lona preta. A festa da companheirada teve um pouco de tudo. Fora os ataques à ferrovia da Vale, que não aparecem no levantamento, houve pelo menos sete bloqueios de rodovias, a interdição de um pedágio, a derrubada de uma plantação de eucalipto e 60 ocupações de fazendas ou prédios. Alguma prisão? Nenhuma. É o Brasil.

[ 04/05/2008 ]

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