Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

Alberto Tamer O custo dos novos investimentos

A elevação do grau de investimento do Brasil, na quarta-feira, um fato único na nossa história, traz vantagens, custos e responsabilidades. Nem sempre é fácil ser feliz...

As vantagens é que vamos receber investimentos de gigantescos fundos estrangeiros, principalmente americanos, a um custo menor. Isso vai valorizar ainda mais as ações de empresas brasileiras, aqui e nos Estados Unidos e, acima de tudo, abrirá espaço, na Bovespa, para novas aberturas de capitais, retraídas pela crise financeira.

O custo virá na forma de valorização do real, pelo menos em curto prazo, provocada pela entrada maciça de recursos externos. Isso deve afetar as exportações, principalmente de produtos industriais. Cabe, aqui, aprovar logo a tão anunciada e sempre adiada política industrial. Ela pode ser importantíssima, desde que venha acoplada a uma política comercial realista, desligada dos sonhos delirantes do Itamaray que ainda espera - só ele - a liberalização agrícola de Doha, e abandonou os acordos bilaterias que os outros se apressaram a concluir.

Quanto às commodities, o alto preço, que deve se manter, compensará a desvantagem do câmbio.

Restam as responsabilidades. Aqui, o Brasil poderá colher enormes resultados dessa classificação da Standard & Poor?s se não ficar só na empolgação e souber agir.

É HORA DE SABER APLICAR

A responsabilidade divide-se em duas áreas. A primeira e, talvez, a mais importante, é a que o governo assume diante de si mesmo e da comunidade mundial, de manter a atual política econômica, monetária e, acima de tudo, fiscal. O alto endividamento interno, mais de R$ 1 trilhão, e o déficit nas contas externas precisam ser corrigidos. É isso o que as agências de risco e os investidores não financeiros esperam.

A outra responsabilidade, para aproveitar bem essa grande oportunidade, é o estímulo a investimentos em projetos produtivos. É verdade que não há muito a fazer com relação aos investimentos diretos, eles já estão vindo em valores crescentes, mesmo sem a nova classificação.

Atraídas pela forte expansão do mercado interno, quase todas as principais e maiores empresas estrangeiras já estão investindo pesadamente aqui. Este ano, deverá ser até mais de US$ 32 bilhões. Mas, agora, o cenário mudou. Há muito mais recursos liberados e elas querem novos projetos para investir num país que acorda, ainda sonolento e perplexo com o que está acontecendo com ele.

INFRA-ESTRUTURA, PRESIDENTE

A maior responsabilidade do governo, e do presidente, afirma esta coluna, é apresentar a essas empresas grandes projetos na área de infra-estrutura, principalmente energia. É uma área importante, mas relegada. Não dispõe nem de projetos maduros, nem de recursos oficiais necessários para que sustentem o atual nível de crescimento econômico. E isso com PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou sem PAC, que está gerando muito discurso em palanques oficiais improvisados, muita notícia, mas permanece canhestro, sem atrair de fato o setor privado, nacional ou estrangeiro.

Aqui, a imensa responsabilidade que o governo tem para aproveitar a bonança de investimentos privados que se espera com a nova classificação. E nessa responsabilidade, um desafio. Privatizar, abrir, escancarar as nossas fronteiras ao capital externo para reconstruir a nossa infra-estrutura.

PRIVATIZAR, PRESIDENTE

Privatizar? Sim, privatizar. O quê? Tudo que ainda está nas mãos do governo cuja função e prioridade é investir em saneamento, saúde, educação e segurança, preparar jovens para o mercado de trabalho. E, decididamente, ele não está podendo dar conta disso. O senhor já derrubou vários tabus. Derrube mais este. Abra para o setor privado áreas ainda fechadas ou semi-fechadas, para não frustrar o seu crescimento agrícola e industrial. É preciso não abrir timidamente, mas escancarar as portas para novos projetos em estradas, portos, aeroportos, prisões (sim, prisões como nos Estados Unidos), usinas, linhas de transmissão, tudo, enfim, que não funciona ou funciona mal.

Sei que muito já está sendo feito, mas ainda é pouco.

Deixem privatizar a Cesp, que se privatize outras em todas as áreas essenciais ao crescimento.

O Brasil tem de instalar anualmente pelo menos mais 4.000 mil megawatts se quiser continuar crescendo a um ritmo de 4,5%. Só isso o livrará da dependência de chuvas, sempre aleatórias, e do racionamento.

Sei que as empresas privadas já estão no Rio Madeira,cujas obras vão demorar cinco anos, e outras se aventuram na construção e administração de rodovias. Mas são apenas algumas. Ainda é pouco. O Brasil precisa de mais portos, estradas, usinas, rodovias e, urgentemente, de aeroportos. Que sejam todos eles privatizados.

Antes, não tínhamos recursos. Agora, poderemos ter. É só apresentarmos projetos consistentes e as obras poderão ser iniciadas ainda neste ano. Em tempo até para as eleições...

*E-mail: at@attglobal.net

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