Agricultura promissora
A agricultura foi o primo pobre nos tempos em que a Cepal influenciava as políticas públicas no Brasil. O argentino Raul Prebisch, seu primeiro dirigente, sustentara que o comércio exterior (e assim a agricultura) não favorecia o crescimento. Prova disso teria sido a deterioração dos termos de intercâmbio da América Latina - então exportadora de produtos primários - do fim do século 19 até os anos 1940.
Prebisch se baseou em limitadas evidências. Sua tese não se confirmou, mas foi a origem de estratégias de industrialização por substituição de importações, sob a liderança do Estado. Mercados fechados e intervenção estatal na economia constituíram os alicerces do nacional-desenvolvimentismo. A industrialização era importante, mas a fé no seu poder transformador foi exagerada.
A agricultura tinha pouca relevância no nacional-desenvolvimentismo. Merecia basicamente subsídios creditícios generalizados. Dizia-se que era assim em todo o mundo (um equívoco). O crédito dependia de arranjo institucional atrasado, que transformou o Banco do Brasil e o Banco Central nas principais fontes de oferta de recursos para o setor.
A ênfase no crédito obscureceu o papel das áreas de educação, saúde, pesquisa agropecuária, extensão rural e infra-estrutura. O crédito rural "compensava" a ausência dessas políticas. A produtividade pouco freqüentava o discurso oficial.
A situação começou a mudar em 1973, com a criação da Embrapa. Continuou em 1986 e 1987 com a eliminação da "conta de movimento" no BB e das funções de fomento do BC, respectivamente. Houve quem dissesse que o fim desses mecanismos levaria a agricultura, então produzindo 52 mil toneladas, ao colapso (outro equívoco).
As pesquisas da Embrapa e o fim do subsídio creditício geraram uma revolução. As pesquisas viabilizaram a exploração dos cerrados e expandiram a produtividade das lavouras, mediante novas variedades e técnicas de plantio direto. Melhoraram a eficiência no manejo dos rebanhos e na produção de carnes, que aumentou muito, ao mesmo tempo em que diminuía a área de pastagens.
O fim do subsídio eliminou desperdícios e corrupção. As novas rodovias, a profissionalização no campo e a criação de produtos financeiros asseguraram a expansão da fronteira agrícola, a geração de incentivos de mercado ao setor e a competitividade da agricultura.
Sem dispor, na agricultura, de ações como as da política industrial, tornamo-nos uma potência agrícola. Segundo o IBGE, nos últimos dez anos a área plantada cresceu 83,5%. Ao contrário do que se disse lá atrás, suas exportações, movidas a tecnologia e capitalismo, geraram desenvolvimento. Teria sido melhor se o governo tivesse melhorado a infra-estrutura e apoiado a vigilância sanitária.
A agricultura brasileira está preparada para um novo salto, decorrente do desenvolvimento da China e da Índia e da correspondente elevação da demanda por alimentos e matérias-primas rurais. Como se sabe, o enriquecimento aumenta o consumo de proteínas, particularmente de carnes, enquanto a elevação de sua produção incrementa a demanda de cereais para a alimentação dos rebanhos.
Segundo a The Economist, a era do alimento barato acabou por causa dos ganhos de renda dos chineses e indianos e do uso do milho para a produção de etanol. Será uma ruptura. O índice de preços dos alimentos em 2005, calculado pelo FMI, era ligeiramente inferior ao de 1974; ou seja, queda real de 75% em 30 anos. Não mais.
Mesmo que o governo não faça a sua parte, incluindo negociações internacionais bem focalizadas para incrementar o comércio exterior, a agricultura tem tudo para se beneficiar dessa nova realidade.
Detemos o maior potencial de expansão eficiente da fronteira agrícola e de crescimento sustentável da produção de etanol. Nossos produtores são competentes. É crescente a influência do mercado na alocação dos recursos e nas decisões estratégicas. A agricultura é uma das mais promissoras áreas da nossa economia.