Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 19, 2008

Hilary Duff no Brasil

A anti-Britney

Hilary Duff apresenta no Brasil o seu pop com
uma pitada de malícia, mas zero de escândalo


Sérgio Martins

Fotos Kevork Djansezian/AP, Dima Gavrysh/AP e Michael Loccisano/Getty Images
Hilary: ela segue os passos de Timberlake (à esq.) e se distancia do fenômeno High School Musical

Lançado em abril de 2007, Dignity, o quarto disco de Hilary Duff, tem letras sobre amarguras e dilemas na vida de uma estrela jovem. Danger fala da tentação de envolver-se com um homem velho (o da música nasceu em 1974). Between You and Me e I Wish expiam o fim de um namoro. Quanto à faixa-título, ela manda um recado a meninas festeiras, que não se importam em "perder a dignidade nas colinas de Hollywood". Os sites de celebridades ajudam a decifrar o significado de algumas dessas letras. As desmioladas de Dignity são Britney Spears e Lindsay Lohan, amigas com quem Hilary rompeu. O namoro conturbado foi com Joel Madden, vocalista da banda de rock Good Charlotte. Porém, quem percorrer os tablóides à procura de registros de Hilary nas garras lascivas de algum trintão (como em Danger) não vai encontrar nada. Ela também nunca foi presa enquanto dirigia bêbada, nunca deu vexame em clubes e jamais permitiu que alguém vislumbrasse sua calcinha (flagrá-la sem roupa íntima, então, nem pensar). "Os paparazzi me odeiam, porque nunca lhes dou uma foto escandalosa", diz a cantora, em entrevista a VEJA. Hilary Duff, 20 anos, que se apresenta nesta semana em São Paulo e no Rio de Janeiro, é a anti-Britney Spears. Ou uma espécie de Sandy – meiga, contida, e com desejo real de cantar.

Hilary Duff ganhou notoriedade ao estrelar Lizzie McGuire, seriado adolescente da Disney. A série durou de 2001 a 2004 e ainda faz sucesso em reprises na TV paga. Desde o fim do programa, Hilary enfrenta o desafio de seguir em carreira-solo sem perder a base de fãs que conquistou. Está numa posição incômoda, pois os produtos mais recentes da fábrica de celebridades Disney – as atrizes-cantoras de Hannah Montana e High School Musical – lhe impõem uma forte concorrência. Este é também um momento de decisões arriscadas. Uma das fórmulas possíveis neste período de transição é adotar o figurino de menina má. Britney Spears e Christina Aguilera seguiram por esse caminho. A primeira, com os resultados desastrosos sobejamente conhecidos. A segunda, de forma mais bem-sucedida, uma vez que hoje desfruta uma carreira estável. Outra fórmula é a de Justin Timberlake. Ela parece a mais provável para Hilary, pelo que se conhece de seu temperamento.

Justin Timberlake é hoje a maior estrela do pop americano. Além de ser um dançarino nato e um entertainer de primeira categoria, ele faz musicalmente o pop "negro", com elementos de hip hop e R&B, que está no centro absoluto da música jovem americana. O mais importante na história de Timberlake, contudo, é que ele jamais abandonou os ingredientes "família" de sua formação na Disney e na banda de garotos ‘NSync. Ele rebola, mas não exagera. Num show recente, despediu-se com Dick in a Box, canção-sátira cujo título, numa tradução "clínica", seria Pênis numa Caixa. Pouco depois voltou ao palco e desculpou-se, contrito, por ter cantado uma canção vulgar. O sucesso de Timberlake mostra que, hoje, os ventos sopram a favor de um pop malicioso, às vezes, mas nunca ultrajante (como podia ser o de Madonna em seus tempos áureos). Hilary Duff segue por essa rota. A artista que os brasileiros vão ver nesta semana ainda cumpre o seu rito de passagem, mas isso parece não ser detrimento algum para o seu show. Segundo o crítico Kelefa Sanneh, do New York Times, a apresentação de Hilary Duff é "muito melhor do que poderia e do que precisaria ser". Acompanhada por sete músicos e quatro bailarinos, sem grande parafernália cênica, ela canta o seu pop "branco" – uma forma branda de música eletrônica dançante que remete à new wave dos anos 80. Hilary, aliás, jura que canta mesmo. Quase sempre. No México, recentemente, ela foi flagrada usando playback. "Mas essa vez não valeu", diz. "O microfone havia pifado."

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