Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Dora Kramer Marta é candidata

A ministra Marta Suplicy tem até junho para assumir, mas já decidiu que será mesmo candidata à Prefeitura de São Paulo.

Enquanto espera vencer o prazo legal para se desincompatibilizar do Ministério do Turismo, assiste de camarote à briga interna do PSDB entre os partidários da candidatura de Geraldo Alckmin e os defensores da aliança com o Democratas em torno do nome do atual prefeito, Gilberto Kassab. Torce, claro, para que saiam ambos candidatos.

Marta não tem pressa nem precisa ter. Internamente, no PT, é imbatível e, por isso, prefere não se precipitar, deixando para oficializar a postulação depois de duas definições tidas por ela como fundamentais para o sucesso da empreitada de tentar recuperar a prefeitura perdida em 2006: um pedido do presidente Luiz Inácio da Silva e a decisão do principal adversário.

Mesmo com a decisão tomada e o controle do PT paulista assegurado, a palavra de Lula para ela é essencial. Mediante um apelo do presidente, a candidatura assumiria um caráter de missão oficial e, assim, na eventualidade da derrota, a volta para o ministério estaria assegurada. Uma vitrine indispensável a uma nova tentativa eleitoral em 2010, para o governo de São Paulo ou para a Presidência da República.

Marta, pessoalmente, não trabalha para dar um empurrãozinho à iniciativa presidencial, mas tem quem faça isso por ela.

Quanto ao inimigo propriamente dito, Marta Suplicy vê, como não poderia deixar de ser, com satisfação o conflito que se desenrola na seara tucana. Consciente da força dos dois adversários - Kassab tem a máquina da prefeitura e a preferência do governador José Serra, e Alckmin tem o primeiro lugar nas pesquisas -, mas ciente também de que disputam o mesmo eleitorado.

Juntos na eleição, subtraem-se mutuamente e abrem mais espaço à candidatura petista. Na hipótese de o PSDB chegar a um acordo interno entre as duas correntes e externo, com o DEM - possibilidade ainda remota -, os correligionários consideram a candidatura de Alckmin sozinho o pior cenário.

Cogitam, como se diz, uma aliança não explícita com os Democratas para alimentar as pretensões de Kassab?

A resposta, obviamente, é negativa, mas avalia-se que é possível tirar proveito das escaramuças tucanas num segundo turno.

No PT avalia-se que, indo Kassab ou Alckmin com Marta para a etapa final, depois de uma preliminar em que o tucano e o democrata disputariam entre si, não seria impossível contar com o apoio - e, sobretudo, o ressentimento - do derrotado.

Do exposto a respeito da perspectiva do grupo de Marta Suplicy em relação à mais importante disputa de 2008, conclui-se que o PT, tendo visto várias vezes o mesmo filme, por enquanto fica impávido e assiste ao adversário jogar ao molde do velho estilo petista de se engalfinhar.

No front

O senador Sérgio Guerra não se arrependeu de assumir a presidência nacional do PSDB. Isso não se pode afirmar sem risco de errar. Mas digamos que nos últimos dois meses já tenha compreendido "au grand complet" a razão pela qual Fernando Henrique Cardoso pesou, mediu, mas recusou, penhorado, a missão de administrador de picuinhas partidárias.

Moral da história

O presidente Lula exclui toda e qualquer possibilidade de redução no fornecimento de energia - "são boatos" -; o ministro da Saúde tranqüiliza a Nação sobre o risco de epidemia de febre amarela.

É possível que estejam falando a verdade e não haja motivo para aflição. Mas a quebra sistemática da palavra oficial faz do Brasil um país de desconfiados.

O ministro pede moderação, mas aí mesmo é que as pessoas correm para a vacinação. O presidente nega a crise e aí mesmo é que todo mundo fala na iminência do apagão.

Não é mera coincidência a semelhança com a história infantil do menino que se divertia dando alarmes falsos sobre o ataque de um lobo. Por duas vezes o pai correu para socorrê-lo. No terceiro pedido de socorro, desta vez real, ninguém atendeu e foi-se o menino, vítima da presunção da mentira.

Aqui, o governo nega sistematicamente a presença do lobo à espreita - tenha ele a forma de crise aérea ou de aumento de impostos -, mas a população, escaldada, não relaxa. Não porque seja informada e mobilizada, mas porque, como o pai da fábula, já foi muito ludibriada.

Oligarquia

São tantas as denúncias, é tão cercada de questionamentos a condição de Edison Lobão Filho para assumir o lugar do pai no Senado, que nem prestamos atenção no fato de que estamos diante de mais um exemplo de distorção do sistema de suplência que permite a "doação" de vagas a parentes, amigos e financiadores de titulares dos mandatos.

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