Até apoiar uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab?
Médio, nota-se pela avaliação dele sobre um cenário em que o PSDB se abstenha de concorrer em São Paulo: "Seria uma situação inédita e extremamente desfavorável para o partido, o eleitorado não aceitaria."
Nada pessoal, só uma análise fria do quadro cuja definição final, no entendimento dele, carece de urgência e depende da vontade do partido e do desejo da população.
Considerando que a aferição popular se faz mediante pesquisas nas quais aparece hoje em primeiro lugar e que qualquer partido prefere ser protagonista que coadjuvante numa eleição, Geraldo Alckmin defende uma tese absolutamente em acordo com seu plano de vôo.
Plano este que pode ser mesmo administrar a cidade de São Paulo "para fazer o bem do povo", mas no momento visa à inclusão partidária.
Alckmin nada diz - claro, não aborda a questão sob o prisma pessoal -,mas seus defensores explicitam: o "outro lado" na nação tucana avançou feito trator, imaginando que poderia deixá-lo de lado agora, mediante a promessa de garantia da vaga para a disputa do governo paulista, em nome da aliança estratégica com o Democratas, visando a arrumação de forças para a disputa presidencial de 2010.
E ser tratado como peça que se joga daqui para ali não estaria condizente com alguém que já foi governador duas vezes, candidato à Presidência, levando a disputa ao segundo turno com Lula, e dono de capital eleitoral expresso na liderança nas pesquisas.
Por isso a postulação de participar do jogo eleitoral desde agora. Na política o mercado futuro depende dos movimentos presentes, sob a regra geral de que o deslocamento faz a preferência e a paralisia abre espaço ao ostracismo.
Nada pessoal, insiste - "Não pretendo nada, o partido decide e fico honrado de meu nome surgir naturalmente" -, apenas um projeto político partidário como outro qualquer.
Legítimo, conforme reconhecem até os tucanos defensores da aliança com o DEM, mas sem dúvida um fator de perturbação na caminhada previamente organizada pelos adeptos da candidatura presidencial de José Serra: eleição de Kassab em 2006, candidatura de Alckmin para o governo de São Paulo em 2010.
Entre eles, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que acha este o caminho a ser adotado.
Geraldo Alckmin não passa recibo. Não toma como crítica pessoal a posição de FH. "Ao contrário, foi muito positiva, abriu o debate dentro do partido."
E a manifestação do governador José Serra dois dias depois, dizendo que a opinião de Fernando Henrique deveria ser levada em conta?
"Ótima. Significa um incentivo ao debate interno e uma honra a lembrança do meu nome para o governo do Estado em 2010."
Então por que não seguir o roteiro por ele tido como o mais correto estrategicamente falando?
"Não é uma postulação pessoal nem se trata de fazer trocas de uma eleição pela outra. É uma decisão coletiva a ser tomada depois de muita conversa e reflexão."
Diferentemente de seus correligionários que adotam um discurso firme contra qualquer possibilidade de composição, Alckmin pondera que nada na vida é inamovível. "Não precisa correria, a partida ainda está nas preliminares."
Tem jogo diferente a ser jogado, então?
"Tudo pode acontecer, alianças se fazem no primeiro, mas também no segundo turno. Além do mais, divergências não significam rupturas, como ficou demonstrado na votação da CPMF. O partido divergiu e, no fim, votou unido."
E agora, a unidade será feita em torno de quem, Kassab ou Alckmin?
"Depende do partido. Agora, se você quer minha opinião, acho muito difícil o PSDB se ausentar da eleição de 2008." Nada pessoal, tudo muito profissional.
Sujeito oculto
Já deu para entender que o governo quer de volta a CPMF, mas não quer assumir a paternidade da matéria. De um lado, porque está ciente de que a sociedade não considera uma boa idéia. De outro, porque há escassez de votos no Senado para aprovar emendas constitucionais e abundância de disposição oposicionista em bombardear as iniciativas do Planalto.
Só falta entender como o governo pretende fazer a coisa: por medida provisória é legalmente impossível, por projeto de lei ou no corpo da reforma tributária, a iniciativa terá o carimbo da base governista, e por pressão do setor da saúde também é necessária uma formatação parlamentar, pois propostas não tramitam por geração espontânea no Legislativo.
Ademais, não há como o governo se esconder. Se no Congresso nada acontece sem a interferência do Planalto - a referência de deputados e senadores, para o bem e para o mal -, que dirá num cenário de distanciamento estratégico.
Fica posto o dilema: se assumir, o governo não leva, se não assumir, a coisa não anda.