Corredor amputado é barrado na Olimpíada
porque suas próteses representam vantagem
sobre outros competidores
Roberta de Abreu Lima
Alessandro Bianchi/Reuters |
Pistorius numa prova de 400 metros em Roma, com atletas não amputados: segundo lugar |
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O corredor sul-africano Oscar Pistorius viu desmoronar na semana passada o grande sonho de sua vida – participar da Olimpíada de Pequim, em agosto. Seu nome foi barrado pela Federação Internacional de Atletismo, num episódio de grande repercussão no meio esportivo porque Pistorius é um corredor de características especiais: teve as duas pernas amputadas abaixo do joelho e corre com próteses feitas de fibra de carbono. E como corre. Ele é recordista paraolímpico nos 100, 200 e 400 metros, e seus resultados nas últimas competições de que participou foram impressionantes para atletas deficientes. Em julho do ano passado, conquistou um segundo lugar numa prova disputada por corredores não deficientes em Roma. Pistorius corre 400 metros em 46,34 segundos, apenas um segundo a mais do que o tempo exigido para a classificação nos Jogos de Pequim. Em junho do ano passado, a Federação de Atletismo aprovara a participação do corredor em competições oficiais. Seguiu-se um intenso debate sobre os limites do uso da tecnologia nessas competições. Em resposta à polêmica, a federação solicitou que Pistorius viajasse a Colônia, na Alemanha, para se submeter a uma série de testes destinados a avaliar a influência das próteses em seu desempenho nas pistas.
Na Alemanha, dez especialistas em ciência do esporte conduziram análises biomecânicas e fisiológicas de Pistorius em ação com suas próteses. Os dados foram comparados com os de cinco atletas não deficientes com desempenho similar ao do sul-africano nos 400 metros. O resultado indicou que as próteses o favorecem na manutenção da velocidade (veja o quadro). Ao gastar 25% menos energia do que os outros corredores, ele tem um consumo menor de oxigênio, o que o deixa menos cansado. Uma peculiaridade do esportista é a capacidade de completar a segunda metade da prova num tempo menor que o da primeira – o que contraria a lógica da diminuição de velocidade com o aumento da fadiga. Com base nessas conclusões, a Federação de Atletismo mudou seu veredicto e tornou Pistorius não habilitado a competições olímpicas. O atleta declarou que vai recorrer da decisão até a última instância, no caso a Corte Arbitral do Esporte, entidade que funciona na Suíça e reúne 300 especialistas em legislação esportiva de 87 países.
"Pela minha experiência com esportistas amputados, as próteses de Pistorius não são suficientes para transformá-lo em campeão", diz André Pedrinelli, médico do esporte e chefe do grupo de amputados do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. "Mas, se ele for autorizado a competir, será aberto um precedente para outros casos no futuro, quando teremos próteses ainda mais aperfeiçoadas", ele completa. Pistorius nasceu em Pretória, na África do Sul, em 1986. Onze meses depois, os médicos lhe amputaram as duas pernas devido a uma má-formação óssea – ele não tinha as fíbulas e alguns ossos dos pés. Quando aprendeu a andar, já usava próteses. Na adolescência, tornou-se esportista. Praticou futebol, críquete, tênis, rúgbi e pólo aquático antes de começar a correr e a impressionar o atletismo com suas atuações. Agora, sua luta é pela realização do sonho olímpico.