Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 19, 2008

Os novos remédios contra a insônia

De olhos bem fechados

Insônia, sono interrompido? Vem aí uma classe
de remédios que ajudará você a dormir melhor


Adriana Dias Lopes

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O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), figura capital do pensamento moderno, escreveu que, para suportar as agruras da vida, a humanidade havia sido abençoada com a esperança, o riso – e o sono. Pois é, não está fácil. Como se não bastasse a escassez dos dois primeiros itens, o terceiro também anda em falta. Uma noite bem-dormida tornou-se um privilégio dos poucos que ainda resistem a levar para a cama a angústia e a ansiedade do dia-a-dia. Pelo menos uma vez por semana, metade de toda a população adulta dorme mal. No mundo, senhoras e senhores. Se você está nesse contingente, saiba que há centenas de cientistas nos laboratórios de biologia molecular e neuroquímica tentando encontrar uma forma de fazê-lo voltar à paz com o travesseiro. Haja trabalho: uma noite repousante é resultado da sintonia entre, pelo menos, uma centena de reações químicas.

A nova frente de ataque à insônia (não adianta usar eufemismos) tem como foco as hipocretinas, substâncias produzidas no cérebro – mais precisamente, no hipotálamo –, responsáveis por nos manter acordados. Descritas pela primeira vez em 1998, elas inauguraram uma linha inédita de pesquisas de remédios para dormir. Até então, os esforços da ciência se concentravam na criação de medicamentos que potencializassem a ação de moléculas indutoras do sono. Com as hipocretinas, a história é outra – os cientistas buscam, agora, desacelerar a sua produção. O papel que as hipocretinas poderiam ter no combate à insônia surgiu do acompanhamento de pacientes vítimas da narcolepsia, doença caracterizada por surtos irresistíveis de sonolência. Descobriu-se que o cérebro desses doentes produz quantidades ínfimas de hipocretinas. Desde 2000, centros de pesquisas americanos, europeus e israelenses se debruçam sobre a criação de um composto capaz de diminuir sua atuação, especialmente na fase de indução do sono. As primeiras experiências com uma molécula anti-hipocretinas mostraram que ela tem o poder não só de aumentar o tempo de sono como também de melhorar a sua qualidade. Esses resultados foram publicados na revista científica Nature, em janeiro de 2007. Há um mês, o laboratório suíço Actelion iniciou a última fase dos testes com a nova molécula. Confirmado o sucesso obtido até agora, o primeiro sonífero com ação nas hipocretinas deverá chegar ao mercado em 2011.

Os soníferos mais modernos agem exclusivamente no processo de indução do sono (veja o quadro). Além de mais eficazes, causam menos efeitos colaterais do que seus antecessores. "Os remédios atuais provocam um quinto das reações adversas dos primeiros soníferos", diz o neurologista Flávio Alóe, do Centro do Sono, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Da classe dos benzodiazepínicos, os medicamentos antigos agem no hipotálamo, no hipocampo e nas amígdalas. É essa ação indiscriminada que deixa aquela sensação de embriaguez no dia seguinte e aumenta o risco de dependência.

Apesar do refinamento do arsenal químico contra a insônia, a medicina ainda não conseguiu desenvolver uma substância capaz de proporcionar uma noite de descanso semelhante à natural. O sono é constituído por quatro fases bem distintas que se alternam em até seis ciclos durante a noite. "Trata-se de um mecanismo tão complexo que dificilmente chegaremos a uma única substância capaz de intervir em todas essas etapas", diz a neurologista Stella Tavares, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Há que levar em conta que os detalhes do processo do sono não foram completamente desvendados pela medicina. Até recentemente, por exemplo, acreditava-se que o ideal seria dormir oito horas por noite. Com os progressos da genética, descobriu-se que esse tempo é um fator relativo. Se uma pessoa acorda novinha em folha depois de uma noite de apenas quatro horas, tudo bem. O que conta é que o sono seja restaurador. É ele que dá esperança, faz rir e, ao final, leva a que se tenha mais sono.

Durma-se com um barulho desses

Mark Hooper/Getty Images


O ronco está entre as principais causas de insônia – de quem dorme ao lado do roncador, é claro. Um ronco pode chegar a registrar 80 decibéis, volume equivalente ao de um aspirador de pó ligado. De acordo com uma pesquisa inglesa, metade dos infelizes que dividem a cama com um roncador tem a vida sexual comprometida pelas desavenças surgidas em torno do barulhão noturno. O ronco é um mal predominantemente masculino, na proporção de três homens para uma mulher. Uma das explicações para esse desequilíbrio está na testosterona, o hormônio da masculinidade: em grande quantidade, ele estreita o canal da faringe. O estilo de vida também conta – cigarro, álcool, sedentarismo e dietas gordurosas, entre outros fatores. O excesso de peso, por exemplo, dificulta a passagem do ar pelas vias respiratórias. Velhos tendem a roncar mais, porque a musculatura da garganta se torna menos rígida com o decorrer dos anos, levando ao estreitamento do canal de circulação de ar. Para 3% da população, o ronco é sintoma de apnéia. O problema se caracteriza pela suspensão da respiração durante a noite. Nos casos mais graves, a apnéia é motivo de infartos e derrames.




Montagem com fotos de Medicalrf.Com/Royalty Free/Getty Images, Brad Wilson/Stone/Getty Images
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