Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 08, 2008

Celso Ming - A indústria arranca




O Estado de S. Paulo
8/1/2008

O dado relevante não é o leve recuo (-1,8%) da produção industrial em novembro em comparação a outubro, mas o forte avanço do setor tanto em 12 meses (+5,5%) como, também, no acumulado do ano até novembro (+6,0%).

É a indústria crescendo mais do que o PIB, que deve fechar o ano com crescimento em torno dos 5,2%. E esse efeito positivo acontece apesar do câmbio desfavorável e dos juros ainda muito altos quando comparados com os vigentes nos países ricos ou nos emergentes.

A força da indústria é tão consistente que, mais uma vez, ficou difícil sustentar o discurso ainda insistente entre os dirigentes da Fiesp de que está em curso um processo de desindustrialização no Brasil.

A impressão geral bastante positiva exige duas observações. A primeira delas tem a ver com a exuberância do setor de bens de capital, que cresceu 19,5% em onze meses de 2007 e 18,4% no ano. Bens de capital são máquinas, equipamentos e outros produtos geradores de riqueza. São forte indicador de investimento.

As Contas Nacionais (as mesmas do PIB) já vinham apontando para um crescimento robusto do investimento, entendido pelo conceito de Formação Bruta de Capital Fixo. Em quatro trimestres, terminados em setembro do ano passado, avançaram 12,1%. É um dado corroborado pelas importações de bens de capital, que, no ano passado, avançaram 32,4%, e pelo aumento do Investimento Estrangeiro Direto, que até novembro deu um salto de 79,6%.

A consistência dos investimentos é o melhor sinal de que o setor produtivo brasileiro (e não só a indústria) está se preparando para dar conta do consumo, que também galopa perto dos 7% ao ano. Quando o investimento fica para trás, num ambiente de alta do consumo, a probabilidade de que ocorra inflação de demanda (aumento de preços pelo efeito de maior procura) aumenta substancialmente. E, nessas condições, o Banco Central fica obrigado a puxar pelos juros.

A segunda observação foca os setores que mais estão apanhando com a globalização da economia e que não têm muito o que festejar com o crescimento geral da atividade industrial. No acumulado do ano, o setor têxtil cresceu 3,2%; o de alimentos, 2,6%; o de calçados recuou 1,7%; e o de madeira também recuou 2,6%.

Apesar da ajuda do governo federal, que colocou em marcha medidas compensatórias, esses segmentos enfrentam enorme concorrência do produto asiático. Trata-se de um movimento que não será revertido com pomadinhas tributárias. O País não tem um projeto para essas áreas e as lideranças de cada um desses setores parecem irremediavelmente divididas sobre o caminho a percorrer.

Apenas a Ásia está empurrando de 35 milhões a 40 milhões de pessoas por ano para o mercado de consumo. Não é apenas nas áreas de matérias-primas e de bens intermediários que cresce a demanda externa. São enormes as possibilidades que se criam para a indústria brasileira. Mas é preciso saber como surfar o novo ciclo de longo prazo sem ser tragado por ele.

Confira
Mudou por quê? - Depois de justificar a pancada do IOF como necessidade de repor perda de arrecadação com a CPMF, o ministro Guido Mantega passou a argumentar que o imposto vai facilitar o controle da inflação pelo Banco Central.

É a primeira vez que o ministro sente a necessidade de ajudar o Banco Central a conduzir a política dos juros.

Mas isso cheira a mudança de tática. Depois de perceber que a Justiça poderia sustar a vigência do IOF com a finalidade de arrecadar, o ministro parece ter-se aferrado à utilização do IOF com caráter regulatório.

Arquivo do blog