Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 13, 2008

Alberto Tamer

Economia, em crise, vai bem


Recessão ou não recessão, essa não é a questão. Nas últimas semanas, a dúvida já se transformou em debate acadêmico entre economistas americanos. Metade afirma que haverá recessão, outra parte nega e alguns chegam a dizer que os EUA já estão nela. Para os institutos mais sérios, há retração, mas não recessão. Eles são mais confiáveis, pois estão menos expostos a interesses próprios, que às vezes distorcem a visão dos analistas.

Na verdade, pouco importa se o crescimento americano é de -0,5%, em dois períodos consecutivos, o que caracteriza, em tese, uma recessão, ou de 1%. Em ambos os casos, é ruim.

Na sexta-feira, em entrevista coletiva, o porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Masood Ahmed, foi explícito: "Embora os riscos de recessão tenham aumentado, não prevemos uma recessão". Para o FMI, as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) foram tomadas no momento oportuno e sustentam a economia.

É essa também a conclusão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as 30 principais economias mundiais; em seu relatório de janeiro, ela usa a palavra "inflexão" para dizer que o PIB americano está recuando - 0,8% em novembro ante 1,5% em outubro; "não é bom, mas a economia continua reagindo bem", afirma.

BERNANKE SE DECIDE

E o Fed decidiu agir com o vigor que a situação exige. Nos últimos dias, Bernanke não parou de anunciar medidas "para dar suporte ao crescimento". Pela primeira vez usou a expressão "afrouxar" a política monetária, o que equivale a reduzir juro. Bernanke mudou, radicalmente, seu discurso; foi tão categórico que só faltou dizer ao mercado em quanto o Fed pretende reduzir o juro.

Bernanke também não fala em recessão, mas sim que "a economia cresceu moderadamente" no último trimestre de 2007. Ele está mais preocupado do que há duas semanas, e por isso decidiu, agora, enfrentar com mais vigor o novo cenário.

AMERICANOS, CONSUMAM!

Ao mesmo tempo, o governo americano prepara um pacote de estímulo ao consumo. Ele teria duas opções: uma, aumentar substancialmente gastos com obras, o que geraria emprego e, depois, consumo. Mas essa seria uma solução de médio prazo e não há tempo a perder.

Por isso, o caminho mais provável é dar dinheiro aos americanos para que consumam mais, como foi feito em 2001, devolvendo cheques aos contribuintes. Hoje se fala numa injeção no mercado interno de US$ 70 bilhões a US$ 100 bilhões.

JUROS TAMBÉM

Isso, mais uma forte redução do juro e substancial injeção de recursos do Fed no mercado financeiro, representaria um vigoroso incentivo à demanda e à economia. Deu certo quando do ataque terrorista ao World Trade Center e pode dar agora também. Desde setembro, o Fed reduziu em 1 ponto porcentual a taxa de juro, trazendo-a para 4,25%, e poderá baixá-la mais.

A diferença marcante é que, hoje, há novas pressões inflacionárias, nos EUA e no mundo, o que restringe a ação do Fed. Menos juro, mais demanda, mais pressão sobre os preços. É um sério desafio a resolver.

ENERGIA, MAIS 13,3%!

E aqui se agita o debate sobre se os preços estão em alta por causa dos alimentos ou do petróleo. A resposta veio na terça-feira, quando a OCDE divulgou sua pesquisa de inflação em novembro nos 30 países membros, os mais desenvolvidos do mundo. O resultado confirma o que esta coluna tem afirmado: a causa básica é o petróleo.

Em novembro, informa a OCDE, a inflação média anualizada, puxada pela energia e alimentos, ficou em 3,3%, contra 2,8% em outubro. Mas, acrescenta textualmente a OCDE: "Os preços da energia para o consumidor aumentaram 13,3% sobre novembro do ano anterior, enquanto o aumento do preço dos alimentos, também para um ano, foi de 4,6%". E o petróleo ainda não estava em US$ 100...

Há, ainda, alguém por aí desejando afirmar que é o etanol, e não o petróleo, que está dando impulso à inflação? Quem tiver dúvida, que abra o site da organização, que tem como sigla em inglês OECD (www.oecd.org).

O combate às inflações americana e mundial deveria partir de um esforço para reduzir a dependência do petróleo dos países árabes e do Irã. E aqui entra de novo o etanol.

NÚMEROS DESAGRADÁVEIS

Na sexta-feira, saíram números desagradáveis da balança comercial americana. Apesar do dólar desvalorizado, em novembro, as exportações aumentaram apenas 0,4%, enquanto as importações evoluíram 3%.

Desagradável por quê? Exportação menor significa que os parceiros comerciais dos EUA, que importam cerca de US$ 2 trilhões por ano, estão absorvendo menos o excesso da produção mundial, porque também estão crescendo menos. E é essa produção que sustenta a geração de empregos e o crescimento da economia mundial, que já aponta para menos de 4% neste ano.

Por outro lado, um aumento das importações americanas pode pressionar a inflação, pois os produtos chegam a preços maiores por causa do câmbio.

Mais um desafio para a economia americana enfrentar. Mas são desafios solúveis, que não projetam um cenário de recessão.

A economia mundial vai crescer menos, sim, mas isso não é tão grave, porque por anos cresceu muito e os países emergentes, mais dinâmicos, vão ajudá-la a se recompor.

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