''''Todo mundo errou ao subestimar a atratividade do País''''
Para o consultor do Itaú BBA, e um dos pais do Plano Real, a alta entrada de recursos estrangeiros foi a grande surpresa de 2007
Fernando Dantas
Em almoço com jornalistas o sr. comentou o erro nas suas projeções para 2007. Como foi isso?
Se eu não me engano minha previsão de crescimento era de 3,7%, inferior a 4%. Eu disse que minhas previsões do ano passado eram essas, que havia esses erros, e que todos esses erros estão ligados a uma variável que subestimei de maneira muito forte: a entrada de recursos estrangeiros. Até foi fácil explicar o meu erro.
O capital estrangeiro, então, foi a grande surpresa?
Acho que onde todo mundo errou ao subestimar o grau de atratividade que o Brasil teria nesse último ano em relação ao influxo de capital estrangeiro. Se não me engano, a ordem de magnitude é algo como uma previsão de US$ 15 bilhões e uma entrada efetiva de US$ 85 bilhões.
Essas entradas incluem o quê?
Investimento direto estrangeiro e outros tipos de capitais de portfólio, como empréstimos, aplicações financeiras, em bolsa, títulos públicos, etc.
E qual foi o efeito das entradas?
Por um lado, permitiu diretamente um volume de investimento maior, porque houve muita entrada de capital para novos projetos, não foi tanto para fusões e aquisições. E, portanto, a taxa de investimentos foi muito maior que a antecipada. Por outro lado, essa abundância de recursos externos propiciou uma grande liquidez interna, que alavancou uma forte expansão de crédito e alimentou o consumo. Houve então essa atratividade do Brasil, com a queda do risco e a história dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China, vistos como países emergentes de grande potencial). As pessoas aqui achavam que as coisas estavam melhorando, mas não nessa magnitude. Esse é um lado da história, o lado da demanda. Há também a surpresa pelo lado da oferta.
Que surpresa?
Houve uma subestimação do produto potencial do País. Antes da revisão das contas nacionais pelo IBGE (no início de 2007), os analistas estimavam que a capacidade máxima de crescimento da economia seria de 3,5%, e que ritmos acima desse levariam o BC a apertar a política monetária para conter a pressões inflacionárias. Mas, além daquela revisão, um conjunto de novas informações a respeito tanto da taxa de investimentos como da taxa de incorporação de progresso técnico e de melhoria da qualidade educacional levou os analistas a aumentarem progressivamente a expectativa sobre o produto potencial ao longo do ano. Se você fizer uma pesquisa hoje, verá que o número preferido agora está em torno de 4,5%.
E como o sr. vê o ano de 2008?
Minha projeção para o crescimento é de 4,5%, mas os fatores decisivos são a intensidade da recessão americana, a possibilidade de crise energética e a pressão inflacionária, que até agora está em cima dos alimentos.
Quem é: Edmar Bacha
Um dos responsáveis por elaborar o Plano Real, lançado em julho de 1994
Foi presidente do BNDES de janeiro a novembro de 1995
É consultor sênior do Itaú BBA desde fevereiro de 2003