Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 20, 2008

Alberto Tamer Pacote americano favorece o Brasil



O governo americano anunciou sexta-feira uma urgente injeção de no mínimo US$ 140 bilhões no orçamento dos consumidores. Não é pouco, 1% do PIB, e terá um repercussão quase imediata, pois será dinheiro nas mãos de quem estava comprando menos com receio da crise financeira e do aumento dos preços dos combustíveis.

O mercado financeiro reagiu com certa frieza, mesmo porque o impacto da medida já havia sido absorvido pelo índices quando se falava em US$ 100 bilhões. Mas as perdas provocadas pela crise financeira e a restrição do crédito continuam pesando.

Havia na tarde de sexta-feira duas dúvidas: o pacote seria suficiente para levar os americanos a consumirem mais? O Congresso vai aprová-lo em tempo hábil que possa evitar uma retração maior da economia, que já está crescendo abaixo de 2%?

As duas dúvidas tinham resposta no pronunciamento de Bush e nas declarações da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi. Ela afirmou que as medidas podem ser aprovadas em até 30 dias, pois já tinham sido discutidas com Bush, Bernanke e o secretário do Tesouro, Henry Paulson. Todos têm o sentido da urgência.

Quanto a Bush, seu recado aos americanos foi claro: o grosso do pacote vem sob a forma de redução de imposto. "Vocês terão dinheiro que poderão usar como bem desejarem, ajudar em suas contas mensais, compensar a alta do preço da gasolina ou cobrir outras necessidades." Mas quanto cada um vai receber a curto prazo? Pessoas ligadas às negociações com o Congresso informavam que seria entre US$ 800 e US$1.600, dependendo do caso. No ataque terrorista de 2001, o estímulo incluía a devolução de impostos entre US$ 300 e US$ 600, mas a elaboração dos cheques demorou cerca de dez semanas, o que será agora evitado. "Deixemos que os contribuintes fiquem logo com o seu próprio dinheiro", disse ele.

Outro estímulo. O governo pretende que essa redução de impostos não seja só por três anos, mas permanente, a fim de evitar uma sobrecarga futura. Isto é, os americanos vão pagar menos impostos para poderem consumir mais. Isso até não parece o Brasil?.

Resumindo, disse Bush, vamos pôr dinheiro na mão do povo, para que ele compre mais.

VAI DAR?

A resposta a essa questão ficou no ar, mas os pronunciamentos de Bush, Bernanke e Paulson davam a entender que, se for preciso, virá mais.

Além disso, é agora certo que o Fed (banco central americano) vai reduzir a taxa básica de juro em 0,50 ponto, em dez dias, e poderá cortar ainda mais a taxa de redesconto.

Esse é um passo decisivo de injetar dinheiro, agora não no sistema financeiro, já em fase de recapitalização, mas diretamente no orçamento dos americanos. É extremamente importante, porque o consumo interno representa algo em torno de 70% do PIB. Haveria também outras medidas em estudo, como reestimular as exportações.

Bush deve detalhar essas medidas no fim de mês, quando apresentará o seu tradicional relatório sobre o estado da União.

Tudo somado - e pode ser só o começo - permitirá que a economia americana retome o seu ritmo de crescimento no segundo trimestre do ano, pois os americanos sempre anseiam comprar mais, o que vinha, em parte, impulsionando a economia mundial.

E PARA O BRASIL?

Nós vamos ser beneficiados de várias formas; uma delas é um eventual aumento das exportações, não tanto para os EUA, mas para outros países. Afinal, nossas vendas para os EUA não passaram, em 2007, de irrisórios US$ 23,5 bilhões. Elas representam apenas 25% das exportações totais. Digo irrisória, quase ridícula, porque eles importam anualmente algo em torno de US$ 2 trilhões. É inútil continuar reafirmando que desprezamos o maior mercado mundial.

É certo que, se voltarem a crescer, os EUA poderão importar mais do Brasil, mas sempre será pouco, pois há muitos anos estamos perdendo presença naquele mercado. Fomos, e continuaremos sendo, desalojados por outros.

Outro benefício para nós será a maior venda para outros países, que sofreriam com retração ou recessão americana.

Além da China e outros países asiáticos, há, principalmente, a União Européia, que absorve 29,7% das exportações brasileiras. A economia da zona do euro está em fase de franca retração, vacila em torno de 2%, pois caíram as vendas para os EUA e o Banco Central Europeu, ao contrário do americano, recusa-se a reduzir os juros para estimular a demanda interna, estagnada. Ao contrario, ameaça até aumentá-los. Os europeus agora estão confiando na Ásia e na China, que, por sua vez, confiam nos EUA. Já entenderam o efeito dominó, não?

MENOR TENSÃO AJUDA

Finalmente, o aumento de consumo nos EUA pode proporcionar mais lucros para empresas, valorização de suas ações na bolsa e menos tensão sobre os índices.

Isso dará maior fôlego à bolsa brasileira e aos investimentos externos. Muitos dos dólares que saíram nesta semana, em decorrência de vendas apressadas de títulos do governo e ações, emigraram não por desconfiança, que não existe, mas para compensar perdas no exterior.

CALMA AÍ, SENHORES...

A ação do governo americano restabelece um pouco de confiança, mas que ninguém se iluda. Vamos ter ainda muita turbulência nos próximos meses. É só ninguém entrar em pânico quando a bolsa paulista recuar 3% ou 4% de um dia para o outro, quando ganhou 43% no ano passado.

Calma aí, senhores... Não há tragédia nenhuma, é apenas um ajuste brusco do mercado, em que muitos vão sofrer, mas a maioria apenas perde um pouco do lucro generoso que já havia obtido.

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