Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Alberto Tamer Bolsa não reflete economia

Vento forte soprando lá fora, com jeito de tempestade. Perdas financeiras se acumulam, sinais contraditórios sobre o comportamento da economia americana e incertezas quanto a saber se o pior passou ou ainda está por vir.

As bolsas vacilam, continuam em queda neste ano, mas os indicadores resistem.Elas não estão retratando a economia. Há muitas oportunidades para compra de ações desvalorizadas, criando uma espécie de "desequilíbrio estável". Cai em um dia, se equilibra no outro, num jogo de mercado que preocupa, pois é brusco e ainda deve durar.

BRILHAMOS NO ESCURO

No Brasil, sem choques. Só a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu algumas telhas nesse temporal de ontem; os índices recuaram, seguindo a sua congênere americana. Mas há telha de sobra, que a fantástica valorização de 43% no ano passado acumulou.

Por outro lado, as ações de empresas brasileiras em Nova York vão de vento em popa, com rentabilidade de 77% no ano passado, em comparação com os 12% das européias e os 6,4% das asiáticas, de acordo com levantamento do Bank of New York Mellon, divulgado ontem.

O Brasil, com um sólido sistema financeiro e sem crise de qualquer tipo, é hoje um risco menor; está crescendo enquanto os outros recuam, atraindo cada vez mais investidores cautelosos.

As empresas brasileiras já representam 15% na lista de ações estrangeiras na Bolsa de Nova York; com recessão ou não - esta não é a questão -, nossas empresas estão brilhando no céu sombrio do mercado financeiro americano.

Vai durar? Até pode, se não fizermos nada de errado por aqui. É só não mexer em nada, por enquanto, ficar atento e se preparar para o caso de a tempestade virar furacão.

JUROS E INFLAÇÃO

O grande desafio continua sendo a inflação, já em alta, que não só impedirá o Banco Central de reduzir o juro, como também poderá levá-lo a promover um aumento.

Discretamente, isso já está sendo insinuado. Juro alto e dólar baixo são fatores decisivos de desaquecimento econômico. Nós conseguimos conviver com eles, mas o cenário externo está mudando.Em 2008 será consideravelmente mais difícil.

HÁ MUITAS SAÍDAS

Mas o que aconteceu nesta quarta-feira cinzenta no mundo afora que poderia nos afetar? Há fatos positivos e negativos, que se misturam e se anulam mutuamente.

Para a coluna, o saldo desses dois dias no mercado financeiro internacional preocupa, mas não chega a assustar. Não é bom, mas também não é de todo ruim. E isso porque há saídas.

O importante, agora, é administrar o nervosismo que se nota por todo lado, projetando um quadro negro que não retrata o que está realmente acontecendo. Vejamos:

1 - Bancos americanos, europeus e instituições financeiras continuam apresentando pesadas perdas (negativo), mas estão conseguindo, facilmente, compensá-las com o afluxos bilionários dos fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio (positivo), hoje nadando em mais de US$ 1 trilhão.

Até agora, sob a forma de participação acionária ou outras, eles já injetaram nesses bancos US$ 59,4 bilhões, valor que aumenta quase a cada dia. Só ontem foram mais US$ 19,1 bilhões. Estima-se que devem chegar, ainda nos próximos meses, mais US$ 50 bilhões.

Isso dá uma certa tranqüilidade a um sistema pressionado por créditos imprudentes - estima-se que 70% dos empréstimos imobiliários eram fraudulentos, continham dados falsos, inventados.

NÃO É QUE A CHINA RECLAMA?

E a soberania? Curiosamente, quem está reclamando não é o governo americano, mas o chinês, que tem um fundo com US$ 200 bilhões ociosos; ele já advertiu os bancos estatais para que parem de financiar as empresas financeiras do Ocidente (eles que assumam seus erros). O negócio é investir no país!

Mas ouviu deles que comprar participações em bancos americanos e europeus é bom negócio. Sabem que mais tarde, assimilado os prejuízos, tudo vai acabar bem e eles terão grande lucro.

INFLAÇÃO, QUEM É O CULPADO?

Isso, no mercado financeiro. E na economia? Também aqui pontos negativos e positivos.

O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos informou que a inflação no ano passado ficou em 4,1%, a mais alta em 20 anos (negativo), mas ficou em 2,2%, excluindo alimentos e energia ( positivo), que é o indicador utilizado pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed).

Aqui, de novo, o governo americano, após a conclusão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), desfaz qualquer dúvida sobre quem é o culpado. Em 2007, informa o Departamento do Trabalho, o preço da energia aumentou 17,4% (!!!) e o da alimentação, apenas 4,9%.

A esses dados soma-se outro, animador: apesar de tudo, a produção industrial aumentou 1,5%, com as fábricas operando com 81,5% de sua capacidade instalada.

O único sinal de alerta é que, num nítido sinal também de desaquecimento econômico, o mercado está absorvendo menos as exportações americanas. Grave? Não. Apenas projeta um cenário de menor crescimento econômico mundial. Só que nesse cenário, por enquanto, estamos indo bem.

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