Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

A volta da energia nuclear civil

Gilles Lapouge*

Será que assistiremos à volta da aceitação da energia nuclear para fins civis? Há 10 anos apenas, muitos governos escutavam docilmente as pregações apocalípticas dos ambientalistas. A Alemanha, a Itália e a Suécia chegaram a decidir pelo fechamento de todas as suas centrais nucleares.

As coisas mudaram um bocado. O Congresso Mundial de Energia, que reuniu em Roma os dirigentes dos grandes grupos mundiais de energia, tomou uma posição muito distinta, a favor da energia nuclear civil. Essa inversão brutal da imagem da energia nuclear se explica por diversas razões:

1 - As reservas mundiais de petróleo estão se esgotando mais depressa que o previsto. A China suga o petróleo do mundo. Evidentemente, outras reservas serão encontradas, mas os especialistas acham que, por volta dos anos 2050, o planeta enfrentará a escassez de petróleo.

2 - O aquecimento climático foi confirmado. Ora, está claro que as centrais nucleares são bem menos poluentes que as elétricas e, sobretudo, as movidas a carvão.

3 - Os sistemas de segurança nuclear fizeram muitos progressos nos últimos 40 anos.

4 - Estão sendo preparadas centrais de “nova geração”, que queimarão menos urânio e deixarão menos resíduos.

Eis porque, tanto nas grandes companhias de eletricidade quanto em muitos governos, a questão nuclear está de volta com força. Na Alemanha, onde a última central nuclear deverá ser fechada em 2020, as pessoas se inquietam: o abastecimento energético do país não está mais assegurado. A Suécia e a Bélgica também decidiram “sair da energia nuclear”, mas hoje se perguntam se não fariam melhor reentrando nela.

Até mesmo as companhias petrolíferas reconhecem que a energia nuclear não poderá ser evitada. O presidente da americana Exxon Mobil declarou em Roma que a energia nuclear já é mais competitiva que o petróleo. Daí que o petróleo se vê diante de um duplo perigo: o esgotamento das reservas e a ameaça de se ver submetido a altos impostos sobre as emissões de gás carbônico.

O impulso a favor da energia nuclear é tão poderoso, tão universal, que os especialistas temem uma escassez de pessoal especializado, não só para construir novas centrais, mas até para operar as que já estão em serviço.

A Itália, único país europeu a ter renunciado à energia nuclear desde 1987, se preocupa. Persuadida de que será obrigada a inverter sua posição, já prepara sua volta. Engenheiros da companhia de eletricidade Enel trabalham com os franceses para readquirir uma competência que perderam nos últimos 20 anos.

Estranha reviravolta da história! A energia nuclear foi ontem banida porque destruía o meio ambiente. Hoje, é em parte para proteger o ambiente que conhece um curioso rejuvenescimento. Evidentemente, persistem alguns grupos ambientalistas que se aferram às suas posições: em Roma, os ecologistas italianos clamavam que “a somatória de petróleo-carvão-nuclear forma um coquetel explosivo para o clima e a paz”.

* Gilles Lapouge é correspondente em Paris

Arquivo do blog