Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

Celso Ming A fragilidade do dólar


Cresce a impressão de que o dólar está especialmente frágil.

A revista alemã Der Spiegel desta semana compara a vulnerabilidade do dólar com a da frota americana do Pacífico ancorada em Pearl Harbor, em 1941, quando foi arrasada por um ataque-surpresa da força aérea do Japão. A idéia é a de que os chineses podem começar a atacar, despejando seu arsenal de dólares no mercado ou, simplesmente, formando reservas em outras moedas.

A percepção de que a anemia do dólar se aprofunda cresceu depois que o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, advertiu que a crise da economia americana pode se alastrar. A opinião pública americana não disfarça a perda de autoconfiança que coincide com a falta de perspectivas para a guerra do Iraque e com os efeitos do estouro da bolha das hipotecas de alto risco sobre o consumo interno.

Esta coluna já tratou do tema no dia 7 de novembro (Dólar, o enjeitado). Hoje fala do que poderia ser feito para reverter o quadro.

O governo americano não parece ter abandonado a política do dólar forte. A novidade está em que não vê o que possa fazer agora para virar o jogo.

Se o Fed desse um tranco para cima nos juros, o dólar começaria a reagir. Mas as prioridades são outras. A política monetária (de juros) dos Estados Unidos abandonou até os objetivos principais, que são o ataque à inflação e o incentivo ao crescimento. No momento, não pode fazer mais do que reduzir a aflição dos mercados atacados pela trombose do crédito. Não dá para contar com o Fed para fortalecer o dólar.

Outra tentativa seria coordenar com as principais potências econômicas uma política nesse sentido. Isso já foi feito no passado, mas, desta vez, nada parece conduzir nessa direção. A última reunião do Grupo dos Sete, realizada em outubro em Washington, foi um fiasco. Tudo o que os dirigentes dos países ricos conseguiram foi outra vez pressionar a China a revalorizar o yuan, como se o problema estivesse centrado na moeda chinesa e não no dólar.

Outra saída seria cuidar dos fundamentos da economia americana. Isso implicaria reduzir o déficit nas contas externas (contas correntes), da ordem de US$ 800 bilhões, e o déficit orçamentário, de US$ 162,8 bilhões. É possível que a atual desvalorização do dólar ajude a reduzir o déficit externo. Mas há dois fatores conspirando em direção contrária: as altas do petróleo e das matérias-primas. Também não dá para esperar a correção do déficit orçamentário porque os Estados Unidos estão atolados em despesas de guerra. Pelos fundamentos, a correção não chegará tão cedo.

A Spiegel termina assim sua matéria: “A tripulação da frota americana estava dormindo quando os bombardeiros japoneses se aproximavam de Pearl Harbor.”

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