Uma mostra com seis títulos inéditos confirma que
os diretores italianos estão recuperando seu vigor
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Cena de Il Dolce e l’Amaro: um cinema com vocação para o embate |
Se cada cinema tem uma vocação – por exemplo, o americano para a ação, o francês para os relacionamentos –, a dos diretores italianos está certamente no conflito, sejam suas tintas fortes as sociais, as históricas ou as pessoais. Esse é o traço comum mais evidente entre os títulos da mostra Venezia Cinema Italiano III. Com ciclos em São Paulo (de 22 a 28 de novembro), Rio de Janeiro (de 26 de novembro a 2 de dezembro), Brasília (de 6 a 12 de dezembro) e, nesta sua terceira edição, também no Recife (de 30 de novembro a 4 de dezembro), o evento trará ao país seis filmes que integraram o último Festival de Veneza, em setembro, e ainda estão inéditos no circuito comercial brasileiro. A programação inclui uma versão restaurada de A Estratégia da Aranha, de 1970 – um dos grandes trabalhos de Bernardo Bertolucci, que há muito tempo não é exibido aqui, sobre as descobertas de um filho que investiga a morte do pai, tido em seu povoado como um herói da luta contra o fascismo.
Os temas representados na mostra (patrocinada pela Embaixada da Itália no Brasil, em conjunto com outras entidades) vão do mais íntimo ao mais abrangente. Na primeira categoria podem-se incluir La Ragazza del Lago (A Garota do Lago), sobre como o seqüestro de uma menina traz à tona tensões latentes dentro de uma pequena cidade; Non Pensarci (Nem Pensar), em que um músico que teve seus cinco minutos de fama como astro punk se vê chegando à meia-idade sem nada além de uma família desajustada; e Valzer, feito em um único plano sem cortes – uma façanha técnica –, no qual dois personagens passam por uma guinada na vida.
Entrechos clássicos surgem em L’Ora di Punta (O Horário de Pico), sobre a ascensão fulminante, por meios escusos, de um jovem de origem humilde; em Hotel Meina, que recupera o episódio verídico da chegada da SS nazista a um hotel de Lago Maggiore no qual está hospedado um grupo de judeus; e em Il Dolce e l’Amaro (O Doce e o Amargo), sobre como um rapaz pobre é cooptado por um mafioso. A outra característica que une esses títulos, mais ainda do que seus enredos, é a sua vitalidade: depois de um período de prestígio em declínio, nos anos 80 e 90, a cinematografia italiana vem reconquistando o vigor que a tornara uma das mais influentes do mundo entre as décadas de 50 e 70, com o movimento neo-realista, o cinema político e a obra de tons existenciais de cineastas como Federico Fellini e Michelangelo Antonioni. Não por acaso, todas correntes assentadas sobre a noção de que o conflito é um estado primordial do homem e da civilização.