Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

Os ecocertinhos de Hollywood


Celebridade do cinema que se preze hoje em
dia milita pelo verde – e não só o dos dólares


Isabela Boscov


Hanks, Ferrell, DiCaprio e Cameron: unidos pelo amor ao planeta

A Última Hora (The 11th Hour, Estados Unidos, 2007), o documentário sobre aquecimento global apresentado por Leonardo DiCaprio, com estréia no país prevista para o dia 30, é mais ou menos como uma aula de cursinho: esforça-se ao máximo para ser movimentado, mas não passa, afinal, de uma aula. E de cursinho, porque não exibe a autoridade em que se fundava Uma Verdade Inconveniente, a aula magna do ex-vice-presidente americano Al Gore. Dirigido pelas irmãs Nadia Conners e Leila Conners Petersen, amantes do verde mas inexperientes nesse tipo de magistério, o filme consiste de uma série de depoimentos que se desenrolam sobre um fundo de imagens da natureza em estado sublime ou apocalíptico. Os entrevistados têm todo o colorido que se espera de uma festa beneficente bancada por um grande astro: vão de especialistas reconhecidos na comunidade científica a xamãs e ongueiros, incluindo um pesquisador aparentemente meio alucinado, que propõe que se façam vastas plantações de cogumelos como forma de devolver água já quimicamente purificada aos aqüíferos e lençóis freáticos. A Última Hora é, enfim, um exemplo consumado da crescente corrente ecomilitante de Hollywood – sincero, entusiasmado e tão cheio de senso teatral que não consegue resistir a um dado espetaculoso, ainda que ele soe meio duvidoso.

Hoje, em Hollywood, não se declarar verde quase equivale a se assumir conservador – ou coisa pior, já que mesmo o "governator" Arnold Schwarzenegger, eleito pelo Partido Republicano, não demorou a fazer da conservação ambiental na Califórnia sua bandeira mais tremulante. Nem toda celebridade é tão ativa nesse setor quanto DiCaprio, que fez uma apresentação apaixonada para Al Gore no último Oscar e produziu A Última Hora junto com sua mamãe riponga e outros companheiros de causa. Mas praticamente não há mais famoso que deixe de arriscar seus palpites e defender algum tipo de ação para salvar o planeta. Tempos atrás, por exemplo, Tom Hanks passou dois blocos inteiros do programa de David Letterman pontificando, com muita graça, sobre as qualidades de seu carro elétrico ("Ele até anda!", brincou). Como os automóveis ligados na tomada não pegaram – sem trocadilho –, o acessório de rigueur do jovem astro ou estrela hoje é um modelo híbrido, como o Prius, recordista de preferência entre os americanos ecologicamente conscientes. Outros, além de consumir biodiesel ao volante, põem sua fama a serviço da causa. Como Cameron Diaz e o comediante Will Ferrell, alguns dos campeões de bilheteria que gravaram curtas-metragens de informação pública por ocasião do Live Earth, em julho. A mais recente adesão ao movimento pode ter sido a da patricinha desmiolada Paris Hilton, que pode ou não ter se manifestado em prol dos elefantes indianos, que costumam ficar bêbados ao beber cerveja caseira em suas incursões pelas aldeias do país. (Num toque bizarro como tudo o que se refere a Paris, ambientalistas a elogiaram pelo depoimento, enquanto sua própria agente o desmentiu.)

Boa parte da ecomilitância, porém, se dá entre a parcela de Hollywood que não é conhecida do público – mas é conhecida, e muito, dos políticos de Washington, com cujas campanhas eleitorais contribui regularmente. No mês passado, a senadora Barbara Boxer, do Partido Democrata, abriu várias horas de sua agenda para receber um grupo de loiras bem-vestidas e bronzeadas. Todas casadas com produtores graúdos de cinema e de televisão, executivos de estúdio e presidentes de agências de talentos, que foram discutir com sua congressista como as águas de Malibu, onde elas vão à praia, estão infestadas de algas, ou como os suéteres de cashmere andam encalhando nas lojas de Beverly Hills. Sinais inequívocos, claro, de que o aquecimento global é um fato que requer atenção tipo assim urgente.

Arquivo do blog