Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

Toma Lá, Dá Cá, a sitcom da Globo

Sitcom à brasileira

Toma Lá, Dá Cá mistura o espírito da chanchada
à fórmula da comédia americana


Marcelo Marthe

Fotos divulgação/Globo
Toma Lá, Dá Cá: elenco que mistura novatos e "macacas velhas"

Toma Lá, Dá Cá, da Rede Globo, é um humorístico à moda antiga. Nos últimos anos, a tendência na emissora foi investir em produções como A Grande Família e A Diarista, gravadas com cenários variados, tomadas externas e apuro técnico semelhante ao das novelas. Além disso, esses programas têm o ritmo ditado pelos cortes e colagens da mesa de edição. Já o Toma Lá, Dá Cá pretende emular as comédias de situação americanas – as sitcoms – em seu formato mais tradicional. Tão velho quanto a televisão (basta lembrar de I Love Lucy, dos anos 50), o gênero se caracteriza pela economia de recursos. Toma Lá, Dá Cá, que fala sobre duas famílias de um condomínio carioca, é produzido em estúdio, com cenários mínimos, e em ritmo teatral: o texto de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa é representado sem pausas, com uma única repetição para acertar os erros. Uma platéia de cerca de 100 pessoas faz as vezes de claque. Como nas sitcoms, o riso é devidamente editado. Mas o jeitão artesanal é preservado no produto final.

Quando o Toma Lá, Dá Cá foi lançado, em agosto, parecia mero repeteco de Sai de Baixo, que reinou nas domingueiras entre 1996 e 2002. Lá estavam os mesmos Miguel Falabella e Marisa Orth que faziam o escroque Caco Antibes e a burralda Magda. Mas Sai de Baixo nada tinha a ver com uma sitcom. Estava mais para chanchada: gravado num teatro, com ampla participação da platéia, consistia tão-somente numa sucessão de gagues. O roteiro era quase inexistente e os atores tinham espaço para improvisar. "Éramos macacas velhas que se revezavam falando bobagem no palco", lembra Falabella. Em Toma Lá, Dá Cá segue-se a cartilha americana, o que exige um esforço de carpintaria por parte dos roteiristas. As piadas têm de se suceder em ritmo acelerado – em média três por minuto – e as várias situações precisam se entrelaçar, de maneira que todo o elenco contribua para a trama.

Em tempo: se os trunfos de uma sitcom são as boas atuações e um roteiro afiado para funcionar, Toma Lá, Dá Cá passa bem no primeiro quesito. Arlete Salles está impagável como Copélia, a avó com idade mental de adolescente, e a escalação do elenco jovem foi feliz – com destaque para Fernanda Souza no papel de Isadora, a adolescente de classe média convertida em funkeira. Para alívio geral, Falabella e Marisa Orth estão mais contidos do que de costume. Falabella, aliás, chama atenção pela forma física. Ou melhor: a falta de. "Engordei 8 quilos porque parei de fumar", diz o ator. "Mas no próximo Carnaval este corpão vai dar espetáculo na avenida."

Não deixa de ser curioso que a Globo aposte numa sitcom quando esse formato vive dias de ocaso em sua origem. O gênero já dominou o horário nobre da TV americana. Desde o fim de Friends, porém, não deu origem a nenhum grande sucesso. Toma Lá, Dá Cá atingiu a média de 24 pontos no ibope, o que não é nada de extraordinário (A Diarista, que era exibida no mesmo horário nas noites de terça, saiu do ar marcando 22). Mas satisfaz à Globo, que deve investir em outra temporada no ano que vem. Ao menos por enquanto a sit-com, essa espécie televisiva ameaçada de extinção, encontrou refúgio no horário nobre brasileiro.

Ela é pura graça

Fernanda: "Sou a própria garota sanfona"

O elenco de Toma Lá, Dá Cá tem seus macacos velhos, como Miguel Falabella e Diogo Vilela. Mas os novatos chamam atenção. Conhecidas até agora apenas no teatro, Alessandra Maestrini e Stella Miranda seguram a onda como a empregada caipira e a síndica corrupta. O desconhecido George Sauma, em seu primeiro papel de destaque na TV, também convence como o adolescente Tatalo. Quem mais tem ganhado cacife com a participação na sitcom, contudo, é a atriz Fernanda Souza – intérprete da abusada Isadora. A cúpula da Globo é só elogios para o seu desempenho. "Há tempos não surgia uma artista com seu timing cômico", diz um executivo da emissora. "Estou apaixonado", derrete-se Falabella.

Fernanda, de 23 anos, despontou ainda adolescente como protagonista da novelinha Chiquititas, do SBT. Contratada pela Globo, ficou um bom tempo relegada a papéis menores – quando os conseguia. "Eu até fazia testes, mas não passava em nada", diz ela. Depois de dois anos sem contrato, foi resgatada pelo noveleiro Walcyr Carrasco e pelo diretor Jorge Fernando, que a chamaram para fazer a novela das 6 Alma Gêmea (2005). A personagem Mirna, que contracenava com uma pata, foi um sucesso. Em O Profeta (2006), seu trabalho seguinte, ela teve de engordar 7 quilos (à base de pizza) para viver a professora Carola – que novamente se transformou em uma âncora da trama. Para se ajustar à silhueta provocante de Isadora, Fernanda teve de perder os mesmos 7 quilos. "Eu sou a própria garota sanfona", diz. Mas ela nem pensa em reclamar. Fernanda conquistou um contrato de longa duração com a Globo, até 2011. Um fato raro para atriz tão jovem.

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