Prisão de jovens no Rio mostra o tráfico
de ecstasy no coração da classe média
Silvia Rogar
Wania Corredo/Ag. O Globo |
Jéssica, 18 anos, algemada na delegacia: a investigação durou cinco meses |
Com cabelo longo e um corpo de chamar atenção nas areias cariocas, Jéssica de Albuquerque e Corrêa, 18 anos, trabalhava num escritório de contabilidade, preparava-se para prestar vestibular e, nos fins de semana, freqüentava festas embaladas a música eletrônica. Ela tem estampa improvável de ser encontrada nas páginas policiais, mas foi justamente lá que seu retrato foi parar: na quinta-feira passada, Jéssica foi presa sob acusação de integrar um esquema de distribuição de drogas em colégios e faculdades particulares do Rio de Janeiro. Ao seu lado, oito jovens com o mesmo perfil. O grupo é a expressão do novo tráfico que se embrenha na classe média para vender principalmente drogas sintéticas como o LSD e o ecstasy, que passa por uma explosão de consumo no país.
A investigação policial carioca, que durou cinco meses e usou 16.000 ligações grampeadas, deixou claro que o tráfico já cruzou a porta das escolas. Um dos integrantes do grupo foi detido dentro de uma universidade. Dos presos por distribuir drogas sintéticas, 90% são classificados pela polícia como "playboys do tráfico": são universitários que usam o computador para comerciar e vêem o dinheiro da venda como uma forma de garantir luxos extras. A cena se repetiu na semana passada em Belo Horizonte, onde cinco estudantes foram detidos com 5.000 comprimidos de ecstasy. "Eles acham que não estão fazendo nada de errado, pois não há disputa entre quadrilhas armadas", diz Paulo Tarso de Oliveira, coordenador do setor de repressão a entorpecentes da Polícia Federal.
A apreensão de ecstasy pela PF disparou neste ano, atingindo a marca de 163.000 comprimidos até a semana passada. O número corresponde ao dobro do verificado em 2004, recorde anterior. Os usuários, mostram os estudos, têm baixa percepção dos riscos da droga, já que os comprimidos são fáceis de esconder e estão associados à música e ao bem-estar. A prisão do grupo carioca aconteceu doze dias depois que o estudante Lucas Maiorano, 17 anos, morreu e outras dezoito pessoas foram hospitalizadas após participar de uma rave no Rio. Festas desse tipo viraram febre no país e chegam a reunir 25.000 pessoas. Algumas duram um fim de semana inteiro, com a chancela das prefeituras. Inconformado com a morte do filho, o comerciante João Carlos Maiorano não tem dúvida. "Essas festas têm de ser proibidas."