Musharraf já foi um mal necessário no
Paquistão. Agora, causa instabilidade
Mohsin Raza/Reuters |
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Entre os ditadores militares, o paquistanês Pervez Musharraf parecia um dos mais decentes. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ele ficou ao lado dos Estados Unidos na luta contra o terrorismo islâmico. Com sua ajuda, os americanos puderam derrubar o regime do Talibã no Afeganistão e causar estragos significativos nas fileiras da Al Qaeda de Osama bin Laden. Ele também é um homem sensato, a quem se podia confiar a guarda do arsenal atômico do Paquistão. O que dizer agora do general? Na semana passada, ele desfechou seu segundo golpe de estado. No primeiro, em 1999, derrubou um governo civil desmoralizado e corrupto. Desta vez, revogou a Constituição, desbaratou a Suprema Corte e mandou prender opositores com um único objetivo: preservar o próprio poder.
Aamir Qureshi/AFP |
Musharraf: dois golpes de estado no currículo |
Com a popularidade em baixa, pressionado, de um lado, pela classe média moderna e urbana que deseja mais democracia no país e ameaçado, de outro, pelo fanatismo islâmico que pretende instalar um regime teocrático do tipo talibã, o general tornou-se um novo motivo de constrangimento para a política externa do governo George W. Bush. O Paquistão recebeu 11 bilhões de dólares em ajuda americana, mas foi incapaz de evitar que o país se transformasse no principal centro mundial de doutrinação e recrutamento de terroristas islâmicos. Nos últimos anos, as regiões fronteiriças com o Afeganistão passaram por um processo que tem sido chamado de "talibanização": após a queda do regime afegão, os líderes talibãs refugiaram-se nas áreas tribais paquistanesas e associaram-se aos chefes locais. O serviço secreto americano suspeita que Osama bin Laden se esconde por lá. Em lugar de ser a solução, Musharraf é agora parte do problema.
Por que o Paquistão é uma encrenca • É o único país muçulmano com armas nucleares • A fronteira com o Afeganistão é domi-nada por tribos aliadas aos terroristas da Al Qaeda • Suas escolas religiosas formam radicais islâmicos de todas as nacionalidades, incluindo alguns que cometeram atentados na Europa • O grupo talibã usa o país como refúgio e local de treinamento na guerra contra as tropas da Otan no Afeganistão • Desde a independência, em 1947, o país foi governado por ditaduras militares durante 33 anos • A renda per capita de sua população, de 164 milhões de habitantes, é menos de um terço da brasileira • O extremismo islâmico é tão poderoso que o crime de blasfêmia é punido com a morte |