A Justiça italiana começa a desvendar o destino
da montanha de dinheiro entregue a Naji Nahas
Marcelo Carneiro
Monica Imbuzeiro/Ag. Globo |
Nahas: no ano passado, VEJA revelou que ele havia recebido 3,25 milhões de reais da Telecom Italia. Agora, já são 25,4 milhões de euros |
Em fevereiro do ano passado, VEJA revelou uma história de espionagem e corrupção. Documentos obtidos pelo colunista Diogo Mainardi mostravam que o especulador Naji Nahas havia recebido 3,25 milhões de reais da Telecom Italia. Em dinheiro vivo. O destino desse montante, entregue a Nahas em maio de 2003, até hoje é um mistério. O especulador disse que se referia a um pagamento por serviços de consultoria. Mas sempre se suspeitou que a bolada teria, na verdade, irrigado o bolso de políticos em Brasília. Agora as coisas começam a ficar mais claras. Há duas semanas, a revista italiana Panorama publicou uma reportagem de capa. O título: "Assim pagávamos as propinas". Trata-se do relato de Giuliano Tavaroli, ex-diretor mundial de segurança da Telecom Italia. Tavaroli passou um ano preso, sob a acusação de ter espionado rivais da empresa no Brasil e pago suborno a autoridades. Na Itália, investigações desse tipo vão até o fim e resultam em cadeia. O ex-diretor de segurança decidiu colaborar com a Justiça e confessou que a companhia enviou mesmo dinheiro ao Brasil para pagar propina.
A partir da reportagem da Panorama, o caso ganhou as manchetes dos principais jornais e revistas italianos – e muito mais veio a público. A Justiça da Itália já sabe que Nahas recebeu nada menos que 25,4 milhões de euros da Telecom Italia, a maior parte entre 2002 e 2003. Agora, a tarefa é descobrir para onde foi tanto dinheiro. Os investigadores apontam dois caminhos: os bolsos de autoridades do governo federal e de deputados da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na qual são tratados assuntos de interesse das empresas de telefonia. Na terça-feira passada, o deputado Julio Semeghini (PSDB-SP), atual presidente da comissão, enviou um ofício à mesa da Câmara pedindo que as denúncias sejam esclarecidas junto à magistratura de Milão, que está com o caso nas mãos.
Na reportagem da Panorama, faz-se referência à revelação de VEJA, que reconstituiu o trajeto dos primeiros 3,25 milhões de reais entregues a Nahas. Acondicionado em uma mala, o dinheiro foi parar na sala de um hotel de luxo em São Paulo, levado por Ludgero Pattaro, representante da Telecom Italia, apontado como o pagador de propina a políticos brasileiros. A empresa italiana esteve envolvida na maior – e mais suja – batalha político-empresarial já ocorrida no Brasil. Entre 2001 e 2005, a companhia disputou com o banqueiro Daniel Dantas o controle acionário da Brasil Telecom. Nesse período, a Kroll, a maior empresa de investigação do mundo, comandou um esquema de espionagem contra os executivos da Telecom Italia, que também monitorava seus rivais. Os dois lados dessa guerra pagaram gordas propinas a políticos para ter seus pleitos atendidos. O que interessa, agora, é levar corruptos e corruptores aos tribunais brasileiros, como está acontecendo na Itália.