Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 10, 2007

A Justiça italiana investiga propina no Brasil

O fio da meada

A Justiça italiana começa a desvendar o destino
da montanha de dinheiro entregue a Naji Nahas


Marcelo Carneiro

Monica Imbuzeiro/Ag. Globo
Nahas: no ano passado, VEJA revelou que ele havia recebido 3,25 milhões de reais da Telecom Italia. Agora, já são 25,4 milhões de euros

Em fevereiro do ano passado, VEJA revelou uma história de espionagem e corrupção. Documentos obtidos pelo colunista Diogo Mainardi mostravam que o especulador Naji Nahas havia recebido 3,25 milhões de reais da Telecom Italia. Em dinheiro vivo. O destino desse montante, entregue a Nahas em maio de 2003, até hoje é um mistério. O especulador disse que se referia a um pagamento por serviços de consultoria. Mas sempre se suspeitou que a bolada teria, na verdade, irrigado o bolso de políticos em Brasília. Agora as coisas começam a ficar mais claras. Há duas semanas, a revista italiana Panorama publicou uma reportagem de capa. O título: "Assim pagávamos as propinas". Trata-se do relato de Giuliano Tavaroli, ex-diretor mundial de segurança da Telecom Italia. Tavaroli passou um ano preso, sob a acusação de ter espionado rivais da empresa no Brasil e pago suborno a autoridades. Na Itália, investigações desse tipo vão até o fim e resultam em cadeia. O ex-diretor de segurança decidiu colaborar com a Justiça e confessou que a companhia enviou mesmo dinheiro ao Brasil para pagar propina.

A partir da reportagem da Panorama, o caso ganhou as manchetes dos principais jornais e revistas italianos – e muito mais veio a público. A Justiça da Itália já sabe que Nahas recebeu nada menos que 25,4 milhões de euros da Telecom Italia, a maior parte entre 2002 e 2003. Agora, a tarefa é descobrir para onde foi tanto dinheiro. Os investigadores apontam dois caminhos: os bolsos de autoridades do governo federal e de deputados da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na qual são tratados assuntos de interesse das empresas de telefonia. Na terça-feira passada, o deputado Julio Semeghini (PSDB-SP), atual presidente da comissão, enviou um ofício à mesa da Câmara pedindo que as denúncias sejam esclarecidas junto à magistratura de Milão, que está com o caso nas mãos.

Na reportagem da Panorama, faz-se referência à revelação de VEJA, que reconstituiu o trajeto dos primeiros 3,25 milhões de reais entregues a Nahas. Acondicionado em uma mala, o dinheiro foi parar na sala de um hotel de luxo em São Paulo, levado por Ludgero Pattaro, representante da Telecom Italia, apontado como o pagador de propina a políticos brasileiros. A empresa italiana esteve envolvida na maior – e mais suja – batalha político-empresarial já ocorrida no Brasil. Entre 2001 e 2005, a companhia disputou com o banqueiro Daniel Dantas o controle acionário da Brasil Telecom. Nesse período, a Kroll, a maior empresa de investigação do mundo, comandou um esquema de espionagem contra os executivos da Telecom Italia, que também monitorava seus rivais. Os dois lados dessa guerra pagaram gordas propinas a políticos para ter seus pleitos atendidos. O que interessa, agora, é levar corruptos e corruptores aos tribunais brasileiros, como está acontecendo na Itália.

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