Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 21, 2007

Sem ferrovias, rodovias, hidrovias e portos

Sandra Cavalcanti
Este é o Brasil de Lula, hoje. Mas tem mais: sem garantia de energia! Já entramos na crise de fornecimento de gás natural. Os preços vão disparar. O fantasma da inflação volta e, daqui a pouco, a crise atinge o abastecimento geral. Mais adiante, na crise de escoamento de safras e de produção industrial, começa outro ciclo de dificuldades. Por que tudo isso?

Muito simples. A estradas estão em petição de miséria. As ferrovias praticamente não existem. Os portos continuam reféns das Docas politizadas. E as aerovias, pior ainda, submetidas à politicagem do aparelhamento petista.

Lula se queixa sempre de uma herança maldita. Sempre se refere a ela quando compara o seu governo com o anterior. No entanto, na realidade, todo o seu proclamado êxito se deve, exatamente, ao cumprimento de todo o planejamento econômico herdado de Fernando Henrique Cardoso. A herança maldita é outra: Lula manteve todos os fracassos de Fernando Henrique nas áreas de transportes e de energia.

Infelizmente, os tucanos, que foram um sucesso na área das comunicações, foram um desastre na área de rodovias, aerovias, portos, ferrovias e energia. Essa, sim, foi uma herança maldita. O governo dos tucanos, que no primeiro mandato de Fernando Henrique teve a coragem de privatizar o sistema de telefonia, não teve o mesmo desempenho nas outras áreas. A duras penas, muito constrangidos, "permitiram" que Angra-2 fosse terminada... Mas não tiveram peito para aproveitar o que já estava pronto e acabar Angra-3. A situação do Sudeste, hoje, seria bem outra, se essa usina já estivesse operando. Os prejuízos e inseguranças seriam bem menores. Mas a turma da USP não gosta da idéia...

Quanto às rodovias, o desastre foi completo. Entregar ao PMDB a questão das rodovias foi o mesmo que colocar a raposa para cuidar do galinheiro. Morre-se hoje nas estradas federais mais do que na guerra do Iraque!

Ouvimos falar em melhorar as condições das estradas federais em Minas Gerais. Mas hoje quem é que se aventura a utilizá-las? Estão um horror. A Operação Tapa-Buracos foi um desacato aos cidadãos brasileiros. Merecia cadeia, se este país fosse sério! E o trecho da Régis Bittencourt (BR-116) entre São Paulo e Curitiba? Alguém conhece vergonha maior? Isso sem falar nas estradas do Centro-Oeste e nas da Região Amazônica. Por que não privatizá-las? Por que elas não podem ficar civilizadas como as do Estado de São Paulo ou como as do Estado do Rio de Janeiro?

Verbas públicas. Licitações desonestas. Emendas demagógicas nos orçamentos. Material ordinário. Desvios de recursos. Caixa 2 para campanhas políticas. Esta é a questão fundamental: as estradas são os maiores ralos de nossos orçamentos! Lula não mudou nada. Só trocou os personagens.

E as ferrovias? Como pode um país continental como o nosso prescindir de transporte ferroviário? E os portos? Como pode um país com o litoral e com a malha fluvial de que dispomos abrir mão de transporte marítimo? Também sob este ponto de vista, a herança de Fernando Henrique Cardoso foi negativa. Mas Lula a manteve. O País continua carregando seus produtos em carretas, que cada dia mais se encarregam de estragar o piso das pobres rodovias e trazer perigo para os seus usuários...

As Docas, nos portos, continuam sendo massa de manobra política. Já eram e continuam sendo. São um viveiro de cargos para os companheiros dos sindicatos e das legendas da famosa base partidária. Por isso os custos dos nossos produtos de exportação não baixam e a competitividade sofre.

Quanto ao transporte aeroviário, o descalabro vem de longe. FHC manteve-o e Lula continuou. A Infraero é um modelo exemplar do que não deve ser feito. Reduto de cargos para militares em fim de carreira e base para políticos espertos fazerem grandes negócios.

As agências reguladoras, que poderiam ter sido um instrumento de progresso, no governo Lula foram esvaziadas. Elas não combinam com a mentalidade estatal, centralizadora, que está na base da atuação petista. Ao contrário, todas elas estão sendo devidamente desmoralizadas, num movimento sutil e eficiente, orientado pelo grupo mais ideológico do Planalto.

Se o País crescer, vai ser um problema danado! Não teremos energia elétrica para garantir a expansão de nosso parque industrial. E se, apesar disso, ele se expandir, não teremos estradas para lhe dar escoamento. Se a agricultura aumentar a sua capacidade, não teremos como armazenar a produção. Nem como escoá-la pelos portos, se as Docas continuarem como estão. E se as ferrovias não tiverem condições de operar, vai ser difícil transportar o excelente resultado de nossa agroindústria.

Ou seja, como gosta de dizer o presidente Lula, é óbvio que estaremos obstruídos dentro de nosso território, graças à total incompetência administrativa dos atuais dirigentes. Estaremos paralisados, entalados, atolados e travados. Quando faltar energia, Angra não estará pronta. E ela é a mais rápida de todas as soluções... Quando faltarem estradas de ferro, as safras vão ser sacrificadas. Quando as estradas estiverem sob as chuvas, ninguém andará nelas... E quando os portos ficarem totalmente entupidos, ninguém vai exportar ou importar...

Essa, sim, é uma herança maldita. Que começou com o ditador Getúlio Vargas e continua até hoje. Aquele anúncio engraçado que diz "o mundo gira e a Lusitana roda" pode ser lido agora de outra maneira: o mundo cresce o lulismo trava!

Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária
de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo
Castelo Branco
E-mail: sandra_c@ig.com.br

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