Artigo - Jarbas Passarinho |
Jornal do Brasil |
6/11/2007 |
Norberto Bobbio, que nunca rejeitou a condição de esquerdista, publicou no início dos anos 80 uma discussão de alternativa aos diversos socialismos, perguntando: Qual socialismo? Como os comunistas não o louvavam, ele confessa: "Creio que os comunistas me consideram um eclético, isto é, alguém que dá uma no cravo e outra na ferradura, um animal filosófico raro em nosso país". Não lhe perdoavam criticar o despotismo soviético ao sustentar que não há socialismo sem democracia. Ao concluir o estudo dos diversos socialismos e a disparidade de opiniões sobre o que se deveria definir como socialismo, negou à União Soviética o lema comunista de que ela foi o primeiro Estado socialista do mundo. Foi? Até mesmo os seus amigos hesitam em responder, o que não acontece com quem tenha de responder se os Estados Unidos ou a Suíça são Estados capitalistas. Mas é taxativo quando afirma publicamente que não aceita a acusação de santa ingenuidade porque afirmou "que onde tem democracia não existe socialismo e onde tem socialismo, até agora (1983) não existe democracia". Lê-lo, a par de fruir a beleza estética do estilo, vale por aprender como se discute com elegância, mas fundadamente baseado no argumento irrespondível, onde não cabe a baixeza dos simplórios. Foi o caso de quem diz que ser de direita é encarar a pobreza como nódoa incurável e acreditar em povos superiores. Um direitista, ao revés, dirá também simploriamente que ser de esquerda é ter sido associado a terroristas e amar Stalin. São definições que beiram o ridículo. Na Assembléia Nacional francesa de 1789, à exceção dos girondinos, dos montanheses e dos jacobinos, de esquerda nascidos na Igreja, que deram um Robespiere, não houve a representação do centro, porque o centro nos plenários é apenas um corredor. Desde, pois, o século 19 que se discute esquerda e direita. A primeira vez que, pelo rádio, dialoguei com o hoje presidente da República, que vinha de comandar greves gigantescas no ABC paulista, perguntei-lhe a que doutrina social e política se filiava. Respondeu-me tout court: sou torneiro-mecânico. Ao que eu saiba já não exercia a profissão, preferindo a de líder sindical. Usou da metonímia, tomou a parte, metalúrgicos, pelo todo, os operários. Mas, como até hoje não sei o que é ser politicamente torneiro-mecânico, a que ramo das doutrinas sociais e políticas contemporâneas pertence, enganei-me com ele várias vezes. Pensei que modernizava o sindicalismo pragmaticamente à Gompers, reformador sindicalista americano, cuja máxima nas disputas com os patrões era "mais e já". Mais tarde, colegas na Constituinte, eleito por mais de 600 mil votos paulistas, ouvi-lhe os discursos, que perdiam progressivamente o interesse do plenário, à medida que repetiam reivindicações trabalhistas. Dos 500 e poucos que éramos, descobriu 300 "picaretas". Tomei-o por um ético decepcionado com o Congresso antiético. Ao ler sua assinatura entre as dos esquerdistas mundiais, comunistas cubanos e colombianos, do Foro de São Paulo, prometendo "fazer certo o que deu errado no Leste Europeu", ou seja, o comunismo sem erros, pensei que torneiro-mecanismo era uma esquerda igual a um sujeito oculto, gramaticalmente falando, que deixava o predicado falar por ele. Mas quando o vi preferido da classe média, em 2002, vi que a companhia dos comunistas era apenas um dado estatístico. No governo, perdido o endereço de Fidel, que só voa por cima sem parar, sua face capitalista proporcionou aos bancos lucros jamais igualados, posto que, sem crescimento, proletariza o segmento mais baixo da classe média. Mas dessa, Marx dizia jamais ser revolucionária. A face socialista reduz a miséria, fazendo na prática o que o economista Bacha não passou da teoria. Seu lado sindical ignora o apagão aéreo, já que não há categoria dos sem-avião e cujo sofrimento é limitado aos que podem pagar passagem aérea. Como todos que se deram conta de que o mundo mudou, fez esquecer o que disse outrora. Tapou os buracos das estradas que encontrou asfaltadas, mas o capital estrangeiro - que já não mais é o vilão - construirá novas rodovias necessárias à logística da Copa de 2014. Para "argentino algum botar defeito". Assim decifrei o que é politicamente torneiro-mecânico: é ser social-capitalista, agradar os ricos, proteger os pobres garantindo-lhe os votos e tornar inevitável um novo mandato presidencial, decidido por um Conselho de Salvação Nacional. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 06, 2007
Que é ser politicamente torneiro-mecânico
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